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Fora da curva, Bia Haddad vence obstáculos e brilha em Roland Garros

A tenista brasileira superou problemas físicos e suspensão por doping

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h40 - Publicado em 9 jun 2023, 06h00

A história do tênis brasileiro é feita de personagens fora da curva. Maria Esther Bueno (1939-2018), com dezenove títulos em torneios do Grand Slam, foi a maior de todas. Gustavo Kuerten, três vezes vitorioso em Roland Garros, na França, também está no panteão dos gigantes. Ambos foram estrelas incomparáveis, que cravaram seus nomes para a posteridade, assim como Pelé no futebol, Ayrton Senna na F1 e Eder Jofre no boxe.

Nas últimas semanas, outro talento despontou nas quadras lendárias e charmosas de saibro do campeonato francês, um dos mais relevantes do calendário. A paulistana Beatriz Haddad Maia atingiu um feito extraordinário ao alcançar a semifinal do torneio. Bia, como gosta de ser chamada, perdeu para a número 1 do mundo, a polonesa Iga Swiatek, na quinta-feira 8, mas pouco importa: seu junho parisiense está marcado para sempre.

RARIDADE - Maria Esther Bueno: dezenove vezes campeã, tornou-se mito
RARIDADE – Maria Esther Bueno: dezenove vezes campeã, tornou-se mito (John Lindsay/AP/Image Plus)

Bia, sob diversos aspectos, pode ser apontada como um fenômeno tardio do tênis. Maria Esther Bueno ganhou seus primeiros Grand Slams individuais em 1959 (Wimbledon e US Open), quando tinha só 19 anos. Guga faturou Roland Garros aos 20. A nova estrela do esporte brasileiro tem 27. Isso, obviamente, não tira o brilho de sua fantástica trajetória na França, mas ela não é — nem será — Maria Esther Bueno ou Guga. Ainda assim, merece todos os aplausos. “É decisivo notar que, mesmo com os obstáculos, ela chegou a um nível de excelência que poucos alcançaram”, disse a VEJA o ex-jogador e ex-técnico de tênis Carlos Alberto Kirmayr. “E tem tempo e condições para conquistar aquilo que vem perseguindo.”

Afinal, que obstáculos foram esses? Ao longo da carreira, a tenista precisou passar por quatro delicadas cirurgias — nos dedos, no punho, nos ombros e nas costas — em decorrência de lesões causadas pelo treinamento intenso. O maior dos desafios, contudo, veio em 2019, quando sofreu uma suspensão por doping. Ela só pôde voltar a treinar dez meses depois, após provar que o teste positivo ocorreu por uma reação cruzada com um dos suplementos que tomava. “Mais cedo, ela já despontava para ser uma grande jogadora, mas infelizmente teve esses problemas”, disse a VEJA o comentarista e ex-tenista Fernando Melingeni, que em 1999 chegou à semifinal de Roland Garros. “Se olharmos os tenistas da América do Sul, a maioria demora para amadurecer em comparação com os europeus e americanos.” Portanto, talvez Bia ainda esteja longe de seu pleno desabrochar.

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EXCEÇÃO - Guga Kuerten no Court Philippe-Chatrier: tricampeão no principal torneio da França
EXCEÇÃO - Guga Kuerten no Court Philippe-Chatrier: tricampeão no principal torneio da França (Julian Finney/Getty Images)

Ela começou cedo no tênis. Empunhou uma raquete pela primeira vez aos 4 anos e, desde então, nunca mais abandonou as quadras. Ainda jovem, começou a participar de competições, nas quais sempre surpreendeu pelo talento precoce. “Mesmo com os mais velhos, ela ganhava os jogos”, disse a VEJA Telma Haddad, tia da atleta. A dedicação era tamanha que, dos 14 aos 18 anos, foi treinar com Larri Passos, conhecido por ter sido um dos mentores de Guga. “Aos 15, ela estava voando”, disse Passos a VEJA. “Já era muito bem formada tecnicamente.” Para ele, Bia jogará em alto nível até os 35 anos.

De forma geral, o tênis moderno se caracteriza por exigir dos atletas força, potência muscular, resistência e equilíbrio emocional — em maior ou menor grau, Bia detém todos esses atributos. A excelência física da tenista — ela tem 1,85 metro —, somada à solidez psicológica, tem chamado a atenção. “A maturidade em que se encontra, aliada às dificuldades enfrentadas em sua carreira, deram equilíbrio emocional e força mental à atleta”, disse a VEJA Fernando Torres, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. Até onde Bia poderá chegar? A julgar pela obstinação da tenista, incansável, novas conquistas virão por aí.

Publicado em VEJA de 14 de Junho de 2023, edição nº 2845

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