Sair do anonimato para conquistar Roland Garros foi um desafio extraordinário vencido por Gustavo Kuerten, mas o que ele não sabia era que, após derrotar o espanhol Sergi Bruguera na final em Paris, teria de encarar uma outra batalha, tão complicada quanto conquistar o título de um Grand Slam: lidar com a fama.
O assédio de jornalistas, fãs e personalidades sobre Guga, que já era grande nos dias que antecederam a decisão, ficou praticamente incontrolável depois da conquista. E o catarinense não demorou nada para sentir na pele a vida de estrela do tênis. Logo depois de vencer Bruguera, o campeão deu uma quantidade incontável de entrevistas, para repórteres de dezenas de países, em português, inglês e espanhol. E isso era apenas o começo.
Na noite de 8 de junho de 1997, Guga e sua trupe foram ao hotel Ritz, um dos mais sofisticados de Paris, para uma festa promovida pela organização de Roland Garros. Lá, encontrou-se e conversou (ou pelo menos tentou conversar, já que não tinha um minuto de paz) com duas lendas do tênis, o sueco Bjorn Borg e o argentino Guillermo Villas. Difícil era acreditar que aquilo não era um sonho maluco.
“Acho que ele não tinha noção do que estava acontecendo, nem eu tinha. Foi uma loucura”, conta Diana Gabanyi, assessora de imprensa de Guga na época. A jornalista lembra que, na véspera da final, o mundo do tênis tinha tão pouca fé no brasileiro que havia nos corredores de Roland Garros convites para uma festa na Embaixada da Espanha para celebrar a conquista do título por Bruguera.
No dia seguinte, após poucas horas de sono, Guga foi ao hotel em que estava hospedada a seleção brasileira de futebol, que disputava um torneio na França, para posar ao lado dos astros Ronaldo e Romário. Na sequência, foi para Bolonha, na Itália, onde disputou um torneio que já estava em seu calendário.
A volta ao Brasil só ocorreu no mês seguinte, após Wimbledon, e foi uma das experiências mais marcantes da vida do tenista. Ao fazer a escala em São Paulo, Guga foi cercado por uma multidão de fãs e repórteres, como se tivesse conquistado Roland Garros no dia anterior. Quando finalmente pisou na sua Florianópolis, percebeu que sua vida nunca mais seria a mesma.
“Quando ele foi receber a chave da cidade, foi uma loucura tão grande, um negócio chocante”, lembra Diana Gabanyi. “O telefone da casa dele não parava de tocar, tiveram até de trocar o número. A situação estava tão complicada que, depois da cerimônia de homenagem, foi preciso entrar no porta-malas de um carro para conseguir sair da praça.”