Hugo Calderano: a conquista da China
Brasileiro levou um inesperado ouro na Copa do Mundo, escalando para o terceiro lugar no ranking global e vencendo o número 1 da lista

O ambiente não podia ser menos favorável — Macau, território da China, onde tênis de mesa, o velho pingue-pongue, é esporte nacional. Natural, portanto, que os chineses dominem todos os pódios de relevo, com direito a torcida que agita bandeira e grita o nome de seus ídolos. Mas, desta vez, quem comandou a bolinha por quase toda a partida, com gestos vigorosos e certeiros, foi Hugo Calderano, 28 anos, que levou um inesperado ouro na Copa do Mundo, escalando para o terceiro lugar no ranking global e vencendo o mesa-tenista-sensação Lin Shidong, o número 1 da lista, no domingo 20. A glória alcançada pelo carioca, que há uma década resolveu embarcar para a Alemanha, onde treina ao lado dos grandes nesta modalidade ainda pouco praticada no Brasil, não é apenas inédita para um brasileiro, como traz o sabor da redenção para Calderano, que deixou a Olimpíada de Paris sem medalhas e dilacerado pela derrota. O baque foi tanto que ele se pôs num canto, com o corpo de 1,82 metro encolhido, a camisa cobrindo o rosto, para evitar qualquer flash daquela tristeza que custou a passar. O dia do ouro em Macau foi inteiramente diferente. Até os jornais chineses enalteceram o feito do jovem egresso do país do futebol que se tornou o primeiro fora da Ásia e da Europa a conquistar a medalha dourada no torneio. “Se você conversasse comigo há um mês, eu estava para baixo, estava mal. Foi muito importante ganhar esse título depois de Paris”, desabafou, com um inconfundível sorriso de campeão estampado no rosto.
Publicado em VEJA de 25 de abril de 2025, edição nº 2941