Julia Bergmann: “É possível conciliar o esporte com os estudos”
Estudante de Física no Instituto de Tecnologia da Georgia, a atleta tem se destacado nos jogos universitários dos EUA e quer garantir vaga na Olimpíada
Revelação do vôlei brasileiro, a ponteira Julia Bergmann, de 21 anos, tem despontado como uma das principais esperanças para o Brasil na disputa dos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris, na França. Nascida em Munique (ALE), filha de pai alemão e mãe brasileira, ela divide sua rotina entre as aulas do último ano no curso de Física no Instituto de Tecnologia da Georgia (Georgia Tech), em Atlanta (EUA); os treinos e os jogos pela NCAA, a liga de voleibol universitário americana. Devido aos estudos, inclusive, a ponteira ficou de fora do último Mundial feminino de vôlei, disputado em outubro, no qual a seleção brasileira foi vice-campeã. Seu sonho, revela em entrevista a VEJA, é ajudar o mundo a descobrir novas fórmulas para combater o aquecimento global – mas isso só depois de seguir carreira na modalidade.
Mesmo novata no elenco, você foi se destacou pela seleção brasileira na Liga das Nações. Como é o desafio de ser uma das principais atletas da nova geração do país? Foi uma experiência incrível poder jogar com as atletas veteranas, mas também com as mais novas, já que eu era a terceira mais nova do time, tendo só 21 anos. Foi um passo importante para chegar às Olimpíadas, que é o sonho da vida de cada atleta. Queria muito ter participado do Mundial este ano, mas não pude por causa da faculdade. Eu acompanhei todos os jogos que consegui assistir e sei o quanto elas trabalharam duro nesse período todo.
Como surgiu seu interesse pela física? Eu sempre gostei muito de ciências e da física, mas o que mais me interessa é o aquecimento global. Eu gosto de pensar nas consequências das mudanças do planeta para o futuro. Depois que eu me formar, eu quero jogar vôlei, mas eu penso em trabalhar em um projeto para ajudar a prevenir as causas do aquecimento global, traçando soluções para alertar as pessoas sobre isso, no futuro.
E como o vôlei aconteceu na sua vida? Eu sempre pratiquei esportes. Nadei dos seis anos até os 15. Sempre tive o esporte na minha vida. Uma coisa curiosa é que meus pais nunca jogaram vôlei profissionalmente, mas se conheceram jogando vôlei em um parque de Munique . Eles sempre jogavam por diversão e levavam o meu irmão e eu para os campeonatos de vôlei de grama e de praia que eles disputavam. Eu comecei na escola de vôlei quando cheguei ao Brasil, aos 11 anos, e fui gostando cada vez mais. Aos 15, eu fui convocada para a seleção sub-18 e decidi que era o que eu queria fazer na vida. Em 2019, surgiu a oportunidade de eu ir estudar com bolsa de estudos integral e jogar vôlei nos EUA.
Você tem se destacado na liga universitária dos EUA jogando pelo Georgia Tech. O nível do campeonato é muito diferente em relação ao profissional? É uma liga muito forte. É possível notar isso porque no atual campeão universitário dos EUA, muitas meninas saíram da universidade e hoje jogam em seleções. Talvez o nosso nível de preparação e de treinamento seja um pouco inferior em relação ao profissional, porque não temos tanto tempo para treinar, mas o nível é alto, ainda que um pouco inferior ao praticado na Europa e nos melhores times do Brasil.
É difícil conciliar o estudo com os esportes? É um pouco mais difícil, um pouco mais cansativo, mas tem sido uma experiência muito boa para mim, de estudar em uma das melhores universidades de ciências dos EUA e jogar vôlei ao mesmo tempo. Isso me traz uma garantia para o futuro. Dá sim para conciliar as duas coisas.
Pretende jogar em algum clube brasileiro depois de se formar? Ainda não sei onde eu vou jogar depois da faculdade. Mas a única certeza que eu tenho é que eu realmente quero seguir carreira no vôlei profissional e jogar na seleção brasileira, escutando tudo o que o (treinador) Zé Roberto tem para me passar.