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Machismo futebol clube: a ainda lenta caminhada dos times femininos

Elas pareciam ter dado um salto, mas faltam planejamento e investimentos sustentáveis a longo prazo

Por Natalia Tiemi Hanada Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 1 nov 2025, 08h00

O futebol feminino brasileiro é um paradoxo: vive entre a euforia de conquistas relevantes e o descaso abissal. O fosso entre o sonho — que por vezes turva a visão — e a realidade talvez seja o principal aspecto da modalidade hoje, e convém lembrar que a Copa do Mundo de mulheres será realizada pelas bandas de cá em 2027. Até lá, porém, há uma imensa avenida a ser atravessada.

Aos fatos que iluminam a constrangedora discrepância: há duas semanas, houve a sexta vitória do Corinthians na Libertadores, a terceira seguida, ao vencer o América de Cali nos pênaltis. O prêmio para as “Brabas”, recorde, foi de 2 milhões de dólares. Houve celebração, apesar do estádio praticamente vazio na Argentina. Em evento simultâneo, e eis aí a vergonha maior, o choque entre o positivo e o negativo, o Flamengo expôs suas entranhas, em imagens e relatos que viralizaram nas redes sociais. A técnica Rosana Augusto, ex-jogadora da seleção, foi desligada do comando das Meninas da Gávea. A saída surpreendeu, dado o desempenho sólido da equipe, que incluía o título da Copa Rio e uma vaga nas quartas do Brasileirão. Embora o clube tenha tratado a demissão como “comum acordo”, a justificativa oficial foi a necessidade de uma “readequação do orçamento”. A rapidez com que Rosana foi anunciada no Palmeiras, quatro dias depois, levanta sérias questões sobre o compromisso rubro-negro com a modalidade.

Até aí, seria possível dar um milhão de explicações, mas a fragilidade foi exposta de forma crua e cruel. A diretoria transferiu os treinamentos da equipe feminina do Centro de Treinamento do Cefan, da Marinha, para o Centro de Futebol Zico (CFZ). Fotos do local mostravam um vestiário pequeno, com azulejos e torneiras quebradas, e água turva, de cor marrom, saindo das pias. A academia parecia depósito de entulho. O campo de treino, com dimensões menores que o exigido pela Fifa, e a área de fisioterapia, improvisada em cima da lanchonete, completavam o cenário de descaso. O contraste com a estrutura milionária oferecida ao futebol masculino do mesmo clube é gritante e levanta uma questão inevitável: os atletas da equipe principal masculina tolerariam essas condições? Não.

A assessoria do Flamengo, procurada, não ofereceu esclarecimentos sobre a readequação orçamentária ou as condições do CFZ. O ex-jogador Zico, responsável pelo centro de treinamento, esclareceu o óbvio: o CFZ se propõe a ser uma escolinha de futebol, não a sede de um time profissional, e a responsabilidade pela adequação do espaço utilizado é do Flamengo. A situação é grave, desrespeitosa e amadora.

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O descompasso entre o que é oferecido às mulheres e aos homens é mal sistêmico. Na Copa América, disputada neste ano no Equador, jogadoras e comissão técnica do Brasil se queixaram da falta de local adequado para aquecimento, forçadas a compartilhar espaço com as adversárias. O VAR só foi instalado nos últimos jogos da competição. A discrepância logística evidencia que, mesmo em nível continental, as mulheres ainda são tratadas como uma categoria secundária, e não surpreende a distância dos valores de transações entre elas e eles (veja no quadro).

O governo brasileiro, constrangido com o palco global de 2027, durante a Copa, tenta fazer algo. A Casa Civil planeja enviar ao Congresso um projeto de Lei Geral da Copa, similar ao modelo de 2014, e estuda-se a reparação histórica às “pioneiras”, que participaram do primeiro evento de futebol feminino da Fifa, em 1988, com um pagamento de 200 000 reais. As iniciativas são bem-vindas, mas parecem mais atentas ao evento em si, para que então na Quarta-Feira de Cinzas tudo volte a ser como antes. Houve melhora, é evidente. A CBF forçou todos os times masculinos da série A a manter um time feminino, ainda que a obrigação produza soluções frágeis. O que se vê, aqui e agora, em jogos disputados em gramados muito ruins — salvo exceções — é triste, como se o tempo tivesse parado lá atrás, em 2018, quando a rainha Marta deu a letra: “Não falta comida na mesa, não vivo mal, mas não tenho regalia. Se eu jogasse futebol masculino, não ia precisar trabalhar nunca mais”. Fica o alerta, necessário, que precisa ser repetido como mantra. Não é um 7 a 1, mas longe, muito longe, não está.

Publicado em VEJA de 31 de outubro de 2025, edição nº 2968

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