O tenista brasileiro Marcelo Melo continua celebrando a conquista de seu primeiro título de Wimbledon, no último sábado, ao lado do polonês Lukasz Kubot. Foi o segundo título de Grand Slam do mineiro de 34 anos, que faturou o troféu de Roland Garros, em 2015, quando era parceiro do croata Ivan Dodig. Melo chegou novamente ao topo do ranking de duplistas e ainda cheio de emoções falou sobre a importância das conquistas dos grandes torneios, do futuro do tênis no Brasil e da premiação – o vencedor em simples, o suíço Roger Federer, levou para casa um cheque de pouco mais de 9 milhões de reais, enquanto Melo e Kubot dividiram o prêmio de 1,6 milhão de reais.
Qual a diferença dos títulos em Roland Garros e Wimbledon? Em qual piso se sente mais à vontade? Roland Garros foi meu primeiro título de Grand Slam, é um torneio muito especial para nós brasileiros, enquanto Wimbledon significa tradição. O meu torneio favorito é Wimbledon, sempre deixei claro que gosto muito de jogar na grama. Creio que por causa da tradição, do simbolismo, a maioria dos jogadores sonha em ganhar em Londres. No meu caso, a conquista foi dupla, porque voltei a ser número 1. Tudo está sendo muito especial.
A premiação para simples e duplas ainda é muito diferente. O que se tem feito para mudar isso? Nós, jogadores, estamos sempre lutando para uma melhora no prize money, tanto em simples quanto nas duplas, especialmente em Grand Slams. É uma proporção ainda muito desigual. Acreditamos que os torneios poderiam pagar premiações mais altas em ambas as chaves. A Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) vem trabalhando com os organizadores dos torneios e com os dos Grand Slams, que são administrados pela Federação Internacional de Tênis, para aumentar os pagamentos. Nós tenistas seguimos lutando por isso.
Como foi o seu processo para encontrar um novo parceiro? Eu e o Lukasz Kubot jogamos juntos pela primeira vez no ATP 500 de Viena (Áustria) há dois anos, e fomos campeões. No ano seguinte, jogamos de novo e vencemos mais uma vez. Eu já sabia que teria boas condições de jogar junto com ele: é agressivo e completa muito meu jogo. Porém, não tínhamos muitas oportunidades para jogar, porque eu já tinha um parceiro fixo, o Ivan Dodig. Logo que viramos uma parceria fixa, começamos a ajustar nosso jogo. Na época da Olimpíada do Rio, trabalhamos muito para encontrar o equilíbrio da dupla. Agora ele já sabe muito bem como eu jogo, o que eu faço nos momentos importantes, como eu penso, assim como eu já sei como ele faz. Isso é essencial para pontos decisivos, momentos como um tie-break em um torneio ATP ou no quinto set de um Grand Slam.
Existe algum motivo para que o Brasil esteja se saindo bem em duplas? Não acredito que exista um motivo especial, talvez seja apenas uma coincidência. Sempre gostei de jogar em duplas, desde a época em que jogava apenas simples. Acho que eu me divertia até mais. Na minha opinião, é importante que o jogador se divirta, que tenha prazer com o momento dentro de quadra, para tentar fazer o melhor resultado possível. Antes de entrar na final de Wimbledon, eu tinha na cabeça que deveria curtir ao máximo aquele momento, e ao mesmo tempo sabia que aquele era meu sonho.
O que é preciso fazer para o tênis ganhar algum impulso no Brasil? É muito difícil definir qual a solução para que um jogador ganhe um Grand Slam, por exemplo. É um trabalho que vem desde a base, das categorias juvenis, então é difícil saber o que fazer realmente. O importante é que os jogadores acreditem que podem chegar lá, como eu sempre acreditei. É uma carreira difícil, abdicamos de muitas coisas para ter uma pequena chance de um dia jogar Wimbledon, quem sabe ganhar… Essa luta é essencial. A Confederação Brasileira de Tênis vem melhorando bastante e ajudando, na medida do possível, os juvenis e profissionais. Podemos até observar países que são potências no esporte, têm vários jogadores no circuito, mas não têm um campeão de Grand Slam. É difícil arrumar uma fórmula, mas acredito que nós, os profissionais, podemos contribuir para o desenvolvimento dos atletas atuais.