A Fifa batizou a Copa do Mundo de 2030, a do centenário do torneio, de “ambulante”. Ela será realizada em três continentes e seis países, na América do Sul, Europa e África. Na Argentina, Uruguai, Paraguai, Portugal, Espanha e Marrocos. O presidente da entidade, o italiano Gianni Infantino celebrou a decisão: “Num mundo dividido, a Fifa e o futebol estão se unindo”. Parece bonito, e é certo que movimentará muito dinheiro, patrocínios em profusão. Mas representa o triste fim de uma era – e não cabe aqui nenhum olhar romântico, congelado pelo tempo.
Há décadas a Copa do Mundo virou evento de televisão e, mais recentemente, das redes sociais. Mas experimente tirar os torcedores dos países que a abrigam. Sobra pouca coisa, quase nada. Basta lembrar da competição no Catar, uma linda festa alimentada por fãs de países árabes, em celebração nas ruas barulhentas de um país autocrático, grupos indo de um canto para o outro, de um estádio para o outro. Sim, o Catar é um lugar pequeno e a Copa foi realizada como se fosse uma olimpíada, numa única cidade. Mas recordemos da Rússia em 2018, do Brasil em 2014. Os torcedores viajavam, mudavam de cidade, de trem ou ônibus, acompanhavam suas seleções. Agora, não mais, porque ficará caro e complexo. Já será difícil em 2026, com as sedes triplas de Estados Unidos, México e Canadá. Em 2030, que pena… o cidadão terá de ver um jogo em Buenos Aires, sair correndo para Casablanca, quem sabe para Lisboa. Confuso, enrolado, impossível.
E restará, da Copa, o que se vê nas telas. Não é de todo ruim – mas a Fifa, na ganância, fingindo celebração, subtraiu a alma dos jogos. É uma pena. Copa do Mundo perde a graça na itinerância.