A operação para por de pé o espetáculo flutuante que se apoderou das águas do Sena, palco da festa de abertura dos Jogos, produziu um efeito colateral nunca visto em Paris. Em muitos trechos daquelas bandas – um pedaço com direito a Louvre, Orsay, lindas pontes e ebulição de restaurantes – a Cidade-Luz mais parecia cidade fantasma.
Ficou tudo fechado para que fosse armado um esquema de segurança à altura das tensões geopolíticas que rodeiam o evento. E dá-lhe QR code para circular de lá para cá, barreiras, polícia – tudo circunscrito numa zona que não por acaso foi chamada de cinza.
Mas aí a cerimônia acabou, e o chuvoso sábado 27 não espantou as pessoas, locais e turistas, que resolveram dar asas à liberdade. O Louvre, antes intransponível, lotou e logo ali adiante nasceu um novo cartão-postal – a chama olímpica, agora instalada em um super balão, homenagem aos engenhosos irmãos Montgolfier (francês, bien sûr), pioneiros no assunto.
UMA CHUVA E UM CLIQUE
Funciona assim: o interessado em ficar lado a lado do objeto que domina a paisagem no Jardin de Tuileries precisa entrar na internet, se inscrever e esperar a vez. A funcionária encarregada da atração informa que 300 pessoas tentam a sorte a cada quinze minutos. Para esse fim de semana, esquece.
Selfie é o que mais se vê por ali, mas há iniciativas mais elaboradas, como a da dupla de amigos portando cada qual um guarda-chuva num clima Gene Kelly. Vietnamita baseada em Paris, Nguyen Min, 55 anos, que no começo dava suas bufadas em relação aos Jogos, estava com ingresso marcado para uma competição de badminton e com uma perceptível agitação olímpica no humor. “A cidade vai ganhar com tudo isso”, torce.
Arquibancadas ainda estão sendo desmontadas e alguns cenários seguem no rio. Mas não por muito tempo, garante Lyes Holem, que exibe o crachá “equipe da abertura da cerimônia”. “Em dois dias, não haverá mais nenhum sinal da festa”, promete. E o povo curte a liberação.