Pé na estrada: o crescimento no número de praticantes de trail run
Depois do sucesso da modalidade no asfalto, faz sucesso o desafio que acontece no piso de terra e ao ar livre
No final de setembro, a cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, foi tomada por corredores. Mais de 4 000 pessoas de 39 países se inscreveram para as provas. Só havia um detalhe: elas aconteceriam em solo pedregoso, em meio às montanhas. Era a Paraty Brazil by UTMB, etapa nacional de um dos principais campeonatos de trail run do mundo. A modalidade, que mistura trilha com corrida, não para de ganhar adeptos. No evento no Rio, 400 participantes se inscreveram na disputa de 108 quilômetros. Largaram às 7 da noite e tinham trinta horas para terminar o percurso. Os atletas de elite não levaram metade disso. Outros, amadores, aproveitaram a oportunidade para percorrer vias históricas, trechos de serra e, claro, exercitar-se na natureza. E é nessa conjunção de atrativos que a trail run faz sucesso.
O crescimento das corridas de montanha integra, na realidade, um movimento maior, fomentado pelo interesse pelas populares corridas de rua. Uma pesquisa da Associação Brasileira dos Organizadores de Corridas de Rua e Esportes Outdoor, em parceria com a plataforma Esporte & Negócio, indica que o número de provas realizadas em 2024 superou em 29% o ano anterior, com 2 897 corridas oficiais. Neste ano, deve bater outro recorde. A motivação reside justamente no interesse de largar o asfalto e suar a camisa em destinos mais aventureiros — no piso de terra e ao lado das árvores. “Com o aumento dos atletas nessa modalidade, tivemos que criar e oficializar uma nova área dentro da nossa assessoria esportiva”, diz Guilherme de Medeiros, coordenador de corrida de montanha na RunFun. Em geral, quem busca o esporte na natureza já tem experiência na versão regular e quer ampliar seu rol de experiências. Até porque existem diferenças expressivas entre as duas práticas. “A principal é a necessidade de treinar subidas e descidas”, afirma Medeiros.
A depender do percurso e da intensidade, é crítico preparar-se, de preferência com orientação profissional. Conhecer os terrenos e os horários das provas, por exemplo, permite treinar habilidades e grupos musculares, bem como adaptar-se às oscilações térmicas. Os circuitos de trail run demandam resiliência física, uma vez que inúmeros fatores podem mudar durante o trajeto — do piso, mais ou menos acidentado e inclinado, às variantes climáticas e às picadas de insetos.
No fundo, é um investimento de tempo… e dinheiro para as viagens. Há quem treine na vizinhança de São Paulo, como no Pico do Jaraguá, ou parta para o interior, em Campos do Jordão. Outros vão até Paraty ou à mineira Nova Lima. E há quem arrisque destinos internacionais, como Mont Blanc, na França. Uma corrida natural para desbravar limites e o mundo.
Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2025, edição nº 2966







