Peregrino da bola; quem é Tiquinho Soares, artilheiro do líder Botafogo
Atacante paraibano que já foi pedreiro, chamou a atenção do futebol no Rio Grande do Sul e foi brilhar em Portugal
“Sou centroavante, gosto de jogar perto da área. Tenho força, habilidade e bom cabeceio”, afirmou o jovem Soares ao site Só Esporte, em sua chegada ao Cerâmica Atlético Clube, da pequena Gravataí (RS), em fevereiro de 2013. Com apenas dois gols marcados, a passagem durou poucos meses e o Cerâmica, o sétimo clube por onde passava na época, foi rebaixado no Gauchão. Mas o jogador, na época com 22 anos, poderia ter acrescentado um traço a mais em sua característica, a persistência. Pouco mais de uma década depois, Soares virou Tiquinho Soares, artilheiro do Campeonato Brasileiro, com 10 gols marcados pelo líder Botafogo.
A trajetória não foi fácil. Nascido em uma família muito humilde na pequena Souza, na Paraíba, Tiquinho, além do futebol, se virou para ajudar nas contas em casa. Trabalhou como pedreiro, inclusive. “Já trabalhei de muitas coisas, como servente de pedreiro, churrasqueiro, e vendia sacolé também, lá no sertão da Paraíba”, contou ele, em uma entrevista à ESPN, em 2018. Com a bola no pé, as tentativas foram ainda maiores. Depois de rodar na várzea e times menores na época da base, foi contratado pelo América-RN. Lá ficou pouco e começou a peregrinar. Em dois anos, entre 2012 e 2014, passou por nove equipes, entre elas, Treze-PB, Caicó-PB e o Cerâmica. Mas foi em outro pequeno time gaúcho que as coisas começaram a mudar.
No Gauchão de 2014, Tiquinho, ainda chamado apenas de Soares, marcou quatro gols em 16 jogos pelo Veranópolis. Um deles ficou marcado, o da vitória de 1 a 0 sobre o poderoso Internacional, que estreava o goleiro Dida, colecionador de títulos no Brasil e na Europa. O desempenho chamou atenção do Nacional da Ilha da Madeira, de Portugal. O CSP, da Paraíba, que detinha seus direitos, o negociou. Não demorou para o centroavante deslanchar. No Campeonato Português 2015/2016, Tiquinho fez 14 gols e logo foi levado para o Vitória de Guimarães, também da Liga Portuguesa. Foram pouco mais de seis meses, com 20 jogos e sete gols marcados. Bastou para chamar atenção do Porto, que o contratou em janeiro de 2017.
No Dragão vieram as glórias. Em três temporadas e meia, o centroavante marcou 65 gols e deu 18 assistências nas 140 partidas em que jogou. O desempenho o ajudou a levantar cinco títulos: dois Campeonatos Portugueses (17/18 e 19/20, uma Supertaça de Portugal (2019) e uma Taça de Portugal (2020). Ajudou também Tiquinho a ser comparado com outro paraibano que marcou época na equipe, Hulk, hoje no Atlético-MG.
Em meio à pandemia do coronavírus, no segundo semestre de 2020, o jogador ficou na mira da China e acabou negociado com o Tianjin Teda. Mas diferente de Hulk, que também atuou no país asiático e deixou saudades no Shanghai Port Football Club, a passagem de Tiquinho foi discreta. Sete jogos e dois gols depois, o atacante rescindiu o contrato e voltou para a Europa. Antes de acertar com o Olympiacos, da Grécia, chegou a ser sondado por clubes brasileiros, como o São Paulo. No clube grego recuperou o bom futebol. Em uma temporada, fez 14 gols em 47 jogos, com direito ao troféu do nacional. Foi então que o Botafogo de John Textor apareceu. Após anos de peregrinação por modestos clubes no interior do país, surgia a proposta de uma grande equipe, transformada em SAF e disposta a investir alto. E Tiquinho voltou.
“Voltei porque nunca joguei em alto nível no futebol brasileiro. Eu não queria voltar mais tarde, em uma idade mais avançada. Quis estar perto de casa, ter a oportunidade de os meus familiares me verem em campo. Quando surgiu a proposta do Botafogo, meu pai e minha mãe gostaram muito, porque poderiam me ver jogando”, explicou o jogador, em entrevista ao GE.
Desde agosto de 2022 no Rio de Janeiro, o centroavante caiu de vez nas graças da torcida botafoguense neste ano. Até agora foram 46 partidas e 27 gols marcados, 10 destes, no Brasileirão, que o time lidera com 30 pontos, sete a mais que o Grêmio, o segundo colocado. Desde Loco Abreu, irreverente atacante uruguaio que marcou 26 gols em 2011, o Fogão não tinha um artilheiro com mais de 20 gols na temporada. Ainda faltam alguns meses e Tiquinho já chegou aos 21.
O desempenho do jogador de 32 anos já estaria chamando a atenção de clube árabes. “Traumatizados” com o acerto do técnico Luís Castro com o Al Nassr, de Cristiano Ronaldo, torcedores e dirigentes do Botafogo não querem nem ouvir falar disso. Mas por enquanto, o persistente Tiquinho Soares é do Fogão.