“Quero chegar aos 100 anos na água”
Odilon Maia Martins, 96, é o remador mais veterano do Brasil e segue representando o país em competições
Em Santa Catarina, onde nasci, na cidade de São Francisco do Sul, sempre pratiquei esportes. Jogava basquete, fazia natação… Quando me mudei para Florianópolis, morava perto do clube de regatas Martinelli. Sempre passava ali na frente, e um dia me convidaram para remar. Era 1952 quando comecei em um barco para aprendiz. Logo no início fui bem e tive bons resultados. Fui campeão do principiante júnior de classe aberta e aquilo fez com que me dedicasse por completo. Tenho uma trajetória muito boa. Nas edições do Mundial de Remo Master tive o prazer de vencer 29 vezes. Participo desde 1991, quando a competição foi em Miami. E quando se tem vitórias, é um incentivo para continuar.
Sigo remando porque faz bem à saúde. Recomendo a todos que façam alguma atividade física. O remo, principalmente, por ser uma prática completa, em que se usa o pé, a perna, os braços, o corpo todo. É a única atividade esportiva com essas características. Graças a esse esporte conheci muitos lugares, dentro e fora do Brasil. Já passei por Canadá, Estados Unidos e Europa. Conquistei vitórias marcantes. Lembro do primeiro campeonato em Santa Catarina. Remei na frente e fomos os primeiros campeões catarinenses do oito com timoneiro. Outra glória foi um campeonato brasileiro contra uma dupla do Flamengo em que um dos remadores tinha sido campeão pan-americano. Mesmo assim, vencemos a prova. Para mim foi espetacular. Além disso, já fui campeão brasileiro, sul-americano e mundial.
Ser vencedor é um incentivo para não parar de remar. Contudo, nem sempre as coisas acontecem conforme o planejado. Neste ano, no Mundial Master, na Espanha, aos 96, eu era o mais veterano da competição. Competi em parceria com meu neto, o Diogo, de 44 anos. Fizemos um treinamento em que o barco estava andando espetacularmente bem. Mas, no dia da competição, tivemos de mudar de equipamento, e infelizmente esse segundo modelo não tinha condições de ser usado. Foi uma frustração muito grande. Só quando participei de outras provas, depois, é que fui esquecendo. Apesar de ser difícil, me esforço para não lembrar do ocorrido e seguir em frente. E ainda bem que tenho o Diogo comigo. Todo ano participamos de três regatas: o Brasileiro, o Sul-Americano e o Mundial. Remamos há tanto tempo que não precisamos mais de técnico, sabemos como devemos fazer, como aplicar a remada com a melhor força e técnica. Nas provas, sempre digo que a saída é decisiva. Se sai bem, sai na frente, é mais fácil vencer. Agora, se sai mal, sai atrás, já fica bem mais complicado. Ano que vem será a mesma coisa. São três regatas nas quais não podemos falhar.
Ouso dizer que o esporte me deu tudo e me ensinou um monte de coisas: a ter disciplina, a praticar para ser vencedor, a treinar. Exige um esforço muito grande, cuidar da alimentação, dormir dez horas no mínimo. Tudo isso eu aprendi graças ao remo. Ele nos ensina a viver feliz e de maneira saudável. Foi fundamental, inclusive, nas relações familiares e no trabalho, como representante comercial de uma farmacêutica, até me aposentar. Hoje sou conhecido em vários países europeus e da América do Sul, em um caminho construído com perseverança. Tenho orgulho de ser um dos remadores mais idosos do mundo.
A maioria das pessoas, quando chega aos 50, acha que já está velha e não precisa mais fazer exercício, suar, mexer os músculos. Ao contrário, é nessa idade que tem que se dedicar mais às atividades físicas para que o organismo se habitue. Nem que seja andar, correr, mas tem que ser diariamente. Eu só não remo no domingo porque o clube não abre. Meu sonho: quero chegar aos 100 anos na água. É o meu objetivo.
Odilon Maia Martins em depoimento a Natalia Tiemi Hanada
Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2025, edição nº 2970
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