A Olimpíada do Rio de Janeiro em 2016 deu um enorme prejuízo e, contrariando o discurso que mantiveram por anos, os executivos responsáveis pela organização do evento agora alegam que sempre precisaram de ajuda pública. Segundo eles, o rombo financeiro foi causado justamente por acordos não cumpridos pela prefeitura do Rio e pelo governo federal.
Dados das demonstrações contábeis do Comitê Rio-2016 e auditoria independente revelam que, ao final de 2016, a entidade registrou um déficit de 132 milhões de reais. O comitê espera que o valor “seja aportado pelo governo do estado e município do Rio de Janeiro”. Os dados, segundo a auditoria, “indicam a existência de incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa quanto a capacidade da entidade em liquidar seus passivos”.
Durante os anos de preparação para o evento, os organizadores insistiram que as obras seriam bancadas pela iniciativa privada e que apenas obras externas ficariam a cargo da prefeitura, estado ou governo federal. No informe, porém, os dados revelam que “subsídios” dos três níveis de governo eram “essenciais para o equilíbrio orçamentário da entidade.”
Segundo o informe, em 10 de fevereiro de 2015, foi assinado entre o Comitê Rio-2016 e a prefeitura um acordo que estabelecia a “obrigação de adquirir bens e serviços de infraestrutura necessários para o funcionamento do IBC, em contrapartida à transferência para a prefeitura de parte dos cursos com energia temporário, em igual valor”.
“Contudo, em 2016, a prefeitura não assumiu a parte do custo de energia temporário, que acabou sendo suportado em parte pela União. Assim, dado que o Comitê Rio-2016 arcou com as despesas de infraestrutura do IBC e parte da energia temporária sem nenhuma contrapartida do município, o orçamento da entidade foi onerado em cerca de R$ 200 milhões”, explica o comitê.
Durante o ano de 2016, o governo federal ainda ficaria com os custos de energia e o governo do estado do Rio, com os serviços de água e esgoto. Por sua parte, a Prefeitura do Rio arcaria com a limpeza, construções de algumas estruturas temporárias, fornecimento de combustível para geradores, mobiliário e computadores.
Crise financeira, política e zika
O Comitê ainda aponta diversas adversidades que o teriam impedido de fechar as contas. “No primeiro semestre do ano passado, diversos fatores externos começaram a impactar diretamente na venda de ingressos, acomodações, hospitalidade, patrocínios entre outras fontes de receitas do comitê”, apontam os documentos. “Os principais foram: crise econômica do país, instabilidade política e surto de zika. Ademais, havia uma baixa procura de ingressos paralímpicos e patrocínios.”
O resultado foi a decisão dos organizadores de “reduzir as atividades dos Paralímpicos de maneira significativa”. Essa medida foi comunicada aos governos, assim como a previsão de déficit e necessidades de recursos. Mas, de acordo com o balanço, o presidente Michel Temer se recusou a reduzir a dimensão do evento e, num comunicado interno de 15 de julho de 2016, o governo garantiu 250 milhões de reais de socorro. Os recursos seriam divididos entre os diferentes níveis de administração.
Segundo o informe, porém, essa promessa não foi cumprida. Dos 150 milhões de reais que viriam da prefeitura, foram enviados apenas 30 milhões de reais. Uma parcela do que viria do governo federal em forma de patrocínio também não foi desembolsado e, no total, os entes públicos teriam uma dívida que chegaria a mais de 170 milhões de reais.
(com Estadão Conteúdo)