Sob nova direção no mundo e no Brasil, o Campeonato Mundial de Fórmula 1 marcou neste fim de semana sua volta ao Autódromo José Carlos Pace, no bairro paulistano de Interlagos, após um ano sem ser realizado em razão da pandemia de Covid-19. O Grande Prêmio de São Paulo, que acontece neste domingo, às 14h, está agora sob o comando do empresário, ex-velejador e ex-atleta olímpico carioca Alan Adler, que colocou como meta renovar o evento a fim de atrair um público mais jovem, diverso e antenado com as últimas tendências. “Estamos em sintonia com a Liberty Media, que vem trabalhando neste sentido desde 2017”, diz ele em entrevista à VEJA, referindo-se ao grupo americano de mídia que assumiu a organização da competição automobilística.
A prova oficial terá o finlandês Valtteri Bottas (Mercedes) e o holandês Max Verstappen (RBR), líder do campeonato com vantagem de 19 pontos, nas primeiras posições na largada. Penalizado com perda de cinco posições por causa de uma troca a mais de motores, o inglês Lewis Hamilton (Mercedes), vice-líder da competição de pilotos, largará em décimo.
Em 2017, uma pesquisa revelou que apenas 14% dos espectadores de Fórmula 1 tinham menos de 25 anos. Na época, a a idade média de um típico fã de corridas era de 36 anos. Com os dados em mãos, a Liberty Media, que assumiu o campeonato naquele ano com um investimento de mais de 4,5 bilhões de dólares, começou a pensar em uma estratégia para atrair espectadores mais novos e mais diversos. Entre as iniciativas, estavam aumentar a presença nas redes sociais, transmitir suas corridas online, investir nos E-sports, aprovar a produção de documentários sobre o tema e outros projetos inclusivos.
Parece que funcionou. Uma pesquisa mais recente, feita com 167 mil fãs de 187 países, registrou que a idade média do espectador de Fórmula 1 caiu para 32 anos, quatro a menos que o último levantamento. Outra descoberta: a participação feminina dobrou ao longo dos quatro anos. Em 2020, houve um aumento de 99% nos engajamentos no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube com relação às corridas. O investimento nos videogames, com a criação do F1 e-Sports Series, que tem participação das escuderias e pilotos especializados, também foi um sucesso – com mais de 11 milhões de participantes no Grande Prêmio virtual de 2020. Finalmente, a série documental “Dirigir Para Viver” (2019), com a quarta temporada engatilhada, lançou luz sobre os bastidores do esporte, humanizando os pilotos e suas equipes.
Presenças garantidas nas corridas da Fórmula 1 em São Paulo, os pilotos Enzo e Pietro Fittipaldi, netos do campeão mundial Émerson Fittipaldi, se firmaram como embaixadores do F1 e-Sports Series. Durante a pandemia, os irmãos fizeram diversas lives transmitindo corridas virtuais, criaram um canal no Twitch e até trouxeram o Gaulês, uma celebridade do mundo gamer, para a nova modalidade. “A gente conseguiu os direitos das transmissões das nossas corridas e também passamos a transmiti-las no canal”, diz Pietro. Pilotos como o holandês Max Verstappen (RBR), que lidera a competição nas pistas, e o britânico Lando Norris (McLaren) são notórios por sua presença nas redes e por se aventurarem no mundo dos games. Não por acaso são os dois mais queridos entre os fãs de corridas, catapultando o já veterano Lewis Hamilton (Mercedes) para terceiro lugar na preferência mundial – o britânico era o primeiro até pouco tempo.
“É um trabalho realmente muito legal”, disse à VEJA o apresentador Luciano Huck, enquanto caminhava com um de seus filhos no Paddock do autódromo de Interlagos e era parado a cada poucos metros para tirar fotos com fãs. “Eles estão investindo em uma série de iniciativas que tem atraído esse público de uma forma integrada e que faz todo o sentido no mundo conectado em que vivemos.” E explica algumas movimentações da organização, que trouxe para o paddock de Interlagos um evento batizado como Game Experience. O duo australiano de música eletrônica Nervo, formado pelas irmãs gêmeas Olivia e Miriam, estavam entre as atrações para o público jovem – elas deram a bandeirada final na sprint race que definiu o grid de largada do Grande Prêmio deste domingo. Por falar em bandeirada, caberá à ginasta e medalhista olímpica brasileira Rebeca Andrade movimentar a quadriculada na chegada da prova principal.
O Grande Prêmio São Paulo deve injetar cerca de R$ 810 milhões à economia da cidade, de acordo com os cálculos da Prefeitura. Além disso, deve movimentar R$ 1,6 bilhão, com os setores de serviços e comércio. Em 2019, último ano em que o GP foi realizado, o impacto financeiro foi de R$ 670,1 milhões, mais R$ 111 milhões de receita com os tributos. Para Bruno Maia, CEO da Feel The Match e especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte, o setor de eventos é uma mola da economia local. “Mais ainda, coincide com um nova Era em que a competição se reinventa, troca de geração de audiências, conquistando novos fãs que aprenderam a gostar do esporte mais pelas histórias que assistem em streaming e redes sociais do que pela memória dos feitos de Ayrton Senna e outros brasileiros. Estamos falando de algo que ainda deve colher frutos por muitos anos”, avalia ele.
Com todos os ingressos colocados à venda já esgotados, são aguardadas cerca de 170 mil pessoas. O recorde pertence à corrida de 2001, quando 174 mil pessoas estiveram em Interlagos. Em 2019, 158.213 torcedores passaram pelo circuito.