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Sumido, Lautaro aguenta injeções e usa ‘espírito de Avellaneda’ por volta

Com dores no tornozelo, atacante tem sido submetido a infiltrações para jogar e tenta usar a história de superação que aprendeu no Racing

Por Klaus Richmond e Maria Fernanda Lemos
Atualizado em 8 dez 2022, 13h00 - Publicado em 8 dez 2022, 07h09

O atacante argentino Lautaro Martínez ainda mantém bem vivos os laços que criou com o Racing, clube de Avellaneda, na região metropolitana de Buenos Aires, onde chegou com apenas 15 anos e saiu em julho de 2018, aos 21.

Quando faltavam 32 dias para o início da Copa do Mundo do Catar, ao ser questionado pela emissora TyC Sports sobre como acompanhava o momento vivido pela a antiga equipe, que um dia antes havia vencido o Lanús por 1 a 0, com um gol salvador aos 37 minutos do segundo tempo, não titubeou: “Todos os jogos do Racing são assim. Se você não sofre, não é Racing”.

Aos 25 anos, o camisa 22 tem vivido exatamente o mesmo mantra que incorporou em Avellaneda no Mundial: saber sofrer. O jogador trata com infiltrações as fortes dores no tornozelo direito para conseguir atuar com a seleção no Catar. Quem revelou a situação esta semana foi seu agente, Alejandro Camacho, em entrevista à rádio argentina La Red.

“Lautaro vem passando por infiltrações. Está com uma dor muito forte no tornozelo. Ele trabalha muito para que essa dor suma. Quando passar, ele voará no gramado. É um goleador top mundial”, explicou Camacho.

Lautaro começou a Copa como titular. Atuou os 90 minutos da derrota por 2 a 1 para a Arábia Saudita, na estreia, e mais 63 no jogo seguinte, no triunfo de 2 a 0 sobre o México, mas, depois, acabou perdendo espaço na equipe de Lionel Scaloni.

Contra a Polônia e a Austrália foram apenas 30 minutos. Na última delas, mesmo com o triunfo por 2 a 1 diante dos australianos, que rendeu a classificação para as quartas de final, virou o alvo preferido de críticas dos argentinos por perder ao menos três chances claras de gol em um intervalo de seis minutos.

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A conta poderia ter ficado ainda pior não fosse uma defesa salvadora de Emiliano Martínez, no minuto 51 de jogo, evitando clara chance de empate dos rivais.

Camisa 22 em ação contra a Austrália: três chances claras perdidas em seis minutos -
Camisa 22 em ação contra a Austrália: três chances claras perdidas em seis minutos – (Odd Andersen/AFP)

“[Lautaro] é um jogador muito decisivo, mas, se o jogo não o acompanha, também não podemos pedir-lhe que faça milagres. Quando a equipe trabalha, as individualidades sobem de nível”, disse Batistuta à TyC Sports, maior artilheiro da Argentina em Copas, com dez gols.

Lautaro chegou ao Mundial como uma das maiores esperanças de evitar sobrecargas a Messi.

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O atacante está desde 2018 na Inter de Milão e vivia boa fase no clube europeu classificado às oitavas de final da Liga dos Campeões. Na atual temporada, soma oito gols marcados e cinco assistências em 21 jogos. 

A rápida ascensão pela alviceleste, com 21 gols em 44 jogos disputados, além do bom entendimento com o sete vezes Bola de Ouro, o credenciavam como um dos principais candidatos a destaque no torneio. Não aconteceu até aqui.

Do banco, ainda viu o jovem Julián Álvarez, de apenas 22 anos, marcar por duas vezes e conquistar a titularidade. Ele também foi defendido publicamente por Scaloni.

“Lautaro nos salvou muitas vezes. Ele nos deu e continuará a nos dar muitas alegrias. É perfeito que Julián [Álvarez] está sendo objetivo, mas Lautaro também vai ser”, analisou o treinador, sem descartar uma volta por cima do pupilo.

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Lautaro e Julán Álvarez, companheiros e concorrentes por posição -
Lautaro e Julán Álvarez, companheiros e concorrentes por posição – (Glyn Kirk/AFP)

Natural de Bahía Blanca, a 636 quilômetros de Buenos Aires, Lautaro quase desistiu do futebol quando iniciou no Racing. Ele sentia falta, principalmente, do irmão mais velho, Alan, que convivia com problemas de saúde, mas acabou convencido a permanecer pelo companheiro de equipe, Brian Mansilla, hoje no FK Orenburg, da primeira divisão russa.

“Brian foi um dos que me abriu as portas. Queria voltar para Bahía Blanca, porque sentia falta, mas ele me convenceu que eu tinha que ficar, aproveitar isso, que é único. Sempre vou agradecê-lo. Sou muito de família”, disse em entrevista ao Clarín, em 2017.

Menos de um ano depois, ele iniciaria a trajetória como profissional, curiosamente, substituindo Diego Milito, um dos ídolos do clube. E jamais se desligou da antiga casa.

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“Sempre assisto aos jogos [do Racing], não perco nenhum. Quando jogo, coloco no Ipad quando viajamos. “Para mim seria um sonho voltar a jogar no Racing, a torcida me ama muito e sempre enlouqueço minha esposa com isso. Hoje não posso prometer quando ou em que momento, mas quero jogar novamente na Argentina e isso seja no Racing”, disse à TyC Sports em outubro.

Ao lado de Lionel Messi, parceiro de ataque e autor de três gols no Mundial -
Ao lado de Lionel Messi, parceiro de ataque e autor de três gols no Mundial – (Odd Andersen/AFP)

Em 2001, a tradicional revista El Gráfico tratou em sua publicação do fim da seca do Racing de longos 35 anos sem ganhar o título argentino com a seguinte manchete: “Los hinchas, un título aparte (‘Os torcedores, um título a parte’, em tradução livre do espanhol). Uma menção elogiosa pelo fato de nunca desistirem.

A conquista chegou como um marco do renascimento de um clube em ruínas. Dois anos antes, em 1999, teve falência decretada pela Justiça, mas, após clamor popular, com as dependências tombadas pelo governo, conseguiu sobreviver.

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Assim como o próprio clube que ressurgiu das cinzas, Lautaro quer se reerguer no Catar. E sabe bem o caminho para isso. O próximo desafio será a Holanda, na sexta-feira, 9, às 16h (de Brasília), pelas quartas de final.

Mesmo que seja por alguns minutos na partida no estádio Lusail, melhor não duvidar de quem tem sobre si o “espírito de Avellaneda”. Lautaro, definitivamente, sabe sofrer.

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