O ano que se encerra proporcionou uma satisfação enorme para aqueles que vivem e acompanham o tênis brasileiro. Afinal, nos últimos doze meses, os nossos atletas voltaram a figurar entre os principais destaques do esporte no cenário internacional, o que nos permite dizer, sem rodeios, que trata-se do melhor momento desde o fim da Era Guga.
Sem falsa modéstia, podemos dizer que 2023 foi como um ace, uma bola vencedora, dentro e fora das quadras. E não foi uma vitória isolada. Os números e indicadores nos trazem, de forma ampla e objetiva, conclusões que ratificam esta sentença. A parte esportiva, que tem os atletas como protagonistas, trouxe resultados extraordinários na temporada que se encerra.
Esta é (e sempre será) a parte mais relevante para qualquer modalidade. Trata-se da materialização dos sonhos individuais e coletivos por meio do trabalho duro, da potencialização de novos talentos e de muita transpiração a cada ponto. Mas há que se ressaltar também as conquistas do tênis brasileiro nos quesitos organizacionais, na gestão e governança, componentes fundamentais na enorme engrenagem que dá propulsão aos talentos .
Distância das antigas práticas
Na última década, a Confederação Brasileira de Tênis iniciou um processo de transformação interna e hoje é gerida como uma empresa, pautada por práticas rígidas de governança corporativa. Por este viés administrativo, cada vez mais distante das antigas práticas de “cartolagem” do esporte, a CBT conquistou um espaço importante no contexto esportivo nacional e mundial, atraindo investimentos por meio de patrocínios diretos, sem convênios com entidades governamentais.
Atualmente, o tênis brasileiro conta com 8 patrocinadores fixos, cujas receitas deram um salto de 4,5 vezes em cinco anos (de 7 para 31 milhões de reais anuais), além de ser a única confederação nacional a ter contrato com 3 dos 4 Grand Slams de tênis, os torneios mais importantes do mundo: Roland Garros, Wimbledon e US Open. Este trabalho reconhecido internacionalmente nos levou também ao comando da Confederação Sul-Americana de Tênis e à vice-presidência da Federação Internacional de Tênis, a ITF, cargos que nunca haviam sido ocupados por brasileiros.
Mas voltemos aos tenistas, as grandes estrelas do espetáculo. Pela primeira vez na história, um brasileiro terminou a temporada como número 1 do mundo entre os juvenis. O carioca João Fonseca, que participa de projetos de desenvolvimento da CBT, venceu o Aberto dos Estados Unidos Júnior e foi vice-campeão do Banana Bowl, um dos principais torneios de formação do circuito internacional.
Também tivemos a conquista inédita do título de duplas mistas do Aberto da Austrália, com a paulista Luísa Stefani e o gaúcho Rafael Matos. Outro feito sem precedentes é a presença simultânea de três tenistas brasileiras entre as 50 melhores do mundo. A paulista Bia Haddad Maia é a atual 11ª colocada no ranking de simples e Top 20 em duplas, tendo atingido a semifinal de simples em Roland Garros e se tornando a primeira sul-americana a vencer o Finals Trophy, torneio que reúne as 20 melhores jogadoras no ranking da WTA, a associação profissional das tenistas, em simples e duplas.
Nas duplas, a também paulista Luísa Stefani e a carioca Ingrid Martins, estão no Top 20 e Top 50, respectivamente. Vale também uma menção honrosa à multimedalhista Laura Pigossi, que termina o ano muito próxima do Top #100 de simples e com duas medalhas de ouro conquistadas no Pan de Santiago, o lhe garantiu uma vaga direta na Olimpíada de Paris, em julho do ano que vem.
O tênis brasileiro quebrou o recorde de medalhas conquistadas na edição 2023 dos Jogos Pan-Americanos, no Chile: foram cinco ao todo (3 ouros, 1 prata e 1 bronze). Na Copa Davis, competição de nações mais tradicional do tênis internacional, o Time Brasil BRB venceu a China em fevereiro e a fortíssima Dinamarca em setembro, se classificando para a primeira divisão da competição. Na Billie Jean King Cup, o equivalente à Davis no tênis feminino, vencemos a Coreia do Sul em novembro e também nos garantimos no primeiro escalão das Copas do Mundo de tênis.
O tênis em cadeira de rodas, também gerido e fomentado pela CBT, se destacou neste ano: a modalidade se classificou de forma direta para a Copa do Mundo, em Portugal, brilhou em torneios do Grand Slam e alcançou um recorde de medalhas numa mesma edição de Jogos ParaPanamericanos (também foram 5 pódios no total). Com investimento anual da Confederação, juntamente com o Comitê Paralímpico Brasileiro, na ordem de 2 milhões de reais, o tênis em cadeira de rodas brasileiro tem, inclusive, um atleta entre os 10 melhores do mundo: o catarinense Ymanitu Silva.
O país do Beach Tennis
Quando falamos em sucesso fora das quadras, estamos falando também das areias. Afinal, o Brasil se consolidou em 2023 como o país do Beach Tennis, esporte que hoje é praticado muito mais fora das praias, migrando para os oásis artificiais dos grandes centros urbanos. Neste ano, foi realizado maior calendário internacional da história desta modalidade, sendo que quase 70% dos torneios foram realizados em território nacional. As disputas que contam pontos para o ranking mundial e distribuem premiação em dinheiro, somadas, distribuíram em torno de 4,5 milhões de reais somente no Brasil (isso sem contar a Copa do Mundo de Beach Tennis, realizada pelo terceiro ano consecutivo no país e cuja última edição aconteceu em São Paulo).
Diante de todos esses feitos, temos orgulho em atestar que praticamente 100% das metas estabelecidas em nosso planejamento estratégico quadrienal foram atingidas. A CBT está preparada para aproveitar a boa fase e visibilidade que nossos ídolos proporcionarão às nossas modalidades para crescer de maneira sustentável. Com muita força na base, com um trabalho de ESG consistente e fortalecendo a equidade de gêneros. O tênis brasileiro seguirá forte e figurando entre os melhores do mundo.
* Rafael Westrupp é presidente da Confederação Brasileira de Tênis, presidente da Confederação Sul-Americana de Tênis (Cosat) e vice-presidente da ITF, a Federação Internacional de Tênis