Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

A nova geração de frutas e legumes geneticamente selecionados

Ela aposta em cores diferentes, sabores adocicados e máximo cuidado com o organismo

Por Mariana Rosário Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h55 - Publicado em 30 abr 2021, 06h00

Na criação do premiado desenho Ratatouille, de 2007, Oscar de melhor animação, os produtores da Pixar entrevistaram biólogos, gastrônomos e chefs para construir a história e seus fascinantes personagens. Houve minucioso cuidado para que nenhuma informação soasse imprecisa. A certa altura, o mestre-cuca parisiense Auguste Gusteau resume a ópera à mesa: “A boa comida é como música que se saboreia, cor que se cheira”. A frase é o gatilho de inspiração para que o protagonista — um ratinho chamado Rémy — se aventure pelo mundo da gastronomia e comande um premiado restaurante francês. Nessa toada, em que a vida imita a arte, vive-se uma pequena revolução nas gôndolas dos supermercados e nas barracas das feiras: a profusão de produtos que seduzem os olhos com novas cores, bagunçando o arco-­íris, e simultaneamente oferecem composições nutricionais cuidadosamente preparadas. Pode ser uma melancia amarela (sim, amarela!) com mais fibras, cebola que não provoque choro ao cortá-la e maracujá-­roxo afeito a ser consumido in natura (acompanhe outros exemplos).

MELANCIA PINGO DOCE AMARELINHA -
MELANCIA PINGO DOCE AMARELINHA – (iStock/Getty Images)
CEBOLA DULCIANA -
CEBOLA DULCIANA – (iStock/Getty Images)

O carro-chefe, dado o sucesso imediato, é a melancia com poucos caroços, sabor doce e fibrosa — além, claro, do divertido espanto provocado pela tonalidade. Estima-­se que até o fim do ano ela morda 15% do mercado de sua irmã original. Há uma vantagem competitiva: estabilidade no gosto e textura suculenta independentemente da época do ano ou local em que for comprada. “Não há surpresas após a compra, ela será sempre doce”, diz Paulo Tomaseto, diretor comercial de sementes de frutas e hortaliças da Basf, empresa alemã responsável pela inovação. Convém não se assustar com a presença de uma companhia química, mais conhecida pela fabricação de corantes sintéticos e, no passado, fitas cassete, na lida com frutas e legumes. A inesperada aparência dos comestíveis esconde zelo rigoroso e atenção total à saúde. É aprimoramento que deve ser celebrado, e não confundido com loucuras de laboratório, sem sentido. Ao contrário: trata-se de um processo fundamental para a agricultura moderna, conhecido como melhoramento genético. Por meio dele, dá-se a mistura — hibridação, no linguajar técnico — de diversas linhagens de uma mesma espécie. “São processos que levam de dez a quinze anos em busca do cruzamento adequado entre espécies já existentes”, diz a professora Sandra Cabel, do curso de agronomia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “Nesse caminho, centenas de combinações são estudadas e descartadas até que se chegue ao ideal esperado.” O método combina plantas de uma mesma família, mas que diferem na cor, no sabor e na acidez. No caso da melancia, por exemplo, o tom amarelado já existia em uma variação africana detectada há milhares de anos.

MARACUJÁ-ROXO
MARACUJÁ-ROXO – (iStock/Getty Images)
Continua após a publicidade
GettyImages-1297422325
KIWI GOLD – (iStock/Getty Images)

Se a variedade hoje faz rir, ao brincar com os cinco sentidos, é sempre bom entendê-la como uma homenagem ao progresso científico — o que não significa, muito ao contrário, a louvação de pesticidas que comprovadamente são perigosos. Não se trata, também, de apartar a qualidade dos produtos orgânicos, muito bem-vindos, embora caros. O controle de campos e estufas, pai e mãe do atual momento, representou nos anos 1960 um movimento que tirou dezenas de milhões de pessoas da fome. A chamada Revolução Verde, que premiou com um Nobel da Paz em 1970 seu mais ardente defensor, o engenheiro agrônomo Norman Borlaug (1914-2009), permitiu o aumento de 13% na produtividade agrícola em países em desenvolvimento, como o Brasil, entre 1960 e 1990. A atual e colorida reviravolta, embora não tão influente, pode representar relevante aliado na conquista de novos consumidores interessados em novidades. E há vasta janela de crescimento. Dados recentes do IBGE apontam que apenas 13% dos adultos consomem a quantidade ideal, 25 vezes por semana, de frutas e hortaliças. É pouco. “A produção hoje busca acompanhar o gosto do consumidor, cada vez mais preocupado com a qualidade e diferenciais do que consome”, diz Fábio Faleiro, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A instituição está na etapa final de estudos de um novo tipo de maracujá, raro no mercado brasileiro, mas já disponível no exterior. A polpa deve agradar a quem tem paladar mais adocicado e a cor arroxeada será um atrativo à parte. É para comer com os olhos também.

Publicado em VEJA de 5 de maio de 2021, edição nº 2736

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.