Fome de mudança: a vez dos hambúrgueres feitos a partir de fungos
Os novos alimentos - entre eles, bacons e filés - ganham espaço na indústria. Mercado cresce no Brasil e no mundo
Na impressionante velocidade de transformação da indústria alimentícia, as carnes com base em plantas não são mais novidade. A onda agora são hambúrgueres, bacons e filés feitos a partir de fungos — aqueles organismos onipresentes que dão origem a leveduras, bolores e cogumelos. Segundo as empresas que estão por trás da invenção, sua textura filamentosa é similar à do músculo animal, característica que plantas raramente apresentam. Em maio, a companhia escocesa Enough anunciou um acordo para vender as proteínas alternativas à Unilever. Dois meses depois, a americana Nature’s Fynd levantou 158 milhões de dólares com o objetivo de desenvolver carnes a partir de fungos encontrados no Parque Nacional de Yellowstone. Também nos Estados Unidos, a startup Prime Roots faz hambúrgueres de fungos que já estão disponíveis no mercado.
A Nature’s Fynd garante que as proteínas de fungo têm valor ambiental. Segundo a empresa, a sua produção consome apenas 1% da energia e 13% da água usada pela agricultura tradicional. Outro ponto levantado é que as carnes compostas de fungos possuem mais nutrientes e menos aditivos do que aquelas feitas com plantas, e apresentam um décimo da gordura e trinta vezes menos sódio do que a carne bovina. “Os benefícios nutricionais e ambientais convencerão o público a procurar alternativas à proteína animal”, espera Karuna Rawal, diretora de marketing da Nature’s Fynd.
O Brasil é o terceiro maior consumidor de carne bovina do mundo, mas o movimento vegano avança. “Somos um mercado em crescimento aos olhos da indústria de proteínas alternativas”, constata Marcos Leta, fundador da Fazenda Futuro, especializada na produção de carnes de plantas. Segundo estudo realizado pela consultoria Boston Consulting Group, o segmento plant-based dobrou de tamanho no país nos últimos cinco anos. “No futuro, nossos descendentes vão olhar para fotos de sistemas intensivos de produção animal e se perguntar como a humanidade foi capaz de fazer isso”, diz Carla Molento, coordenadora do Laboratório de Bem-Estar Animal da UFPR. Talvez lancem a pergunta saboreando um belo sanduíche de fungos — ou de carne mesmo.
Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752