Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Paladares à prova: de onde virá a próxima revelação do mundo do vinho?

Rótulos desconhecidos podem superar ícones estabelecidos, como ocorreu com rótulos do Chile e dos Estados Unidos

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2024, 17h02 - Publicado em 5 Maio 2024, 08h00

Foi um espanto. Em 2004, o vinho chileno era conhecido no mundo por ser bem-feito e barato, mas não era considerado bom o suficiente para figurar nos debates sobre os grandes rótulos de países como França, Itália e Espanha. Foi preciso um julgamento às cegas reunindo especialistas internacionais para mostrar que poderia competir com os principais nomes do mercado. Na época, o enólogo chileno Eduardo Chadwick, responsável por vinhedos na região do Vale do Aconcágua, organizou uma degustação em Berlim. Selecionou três de seus próprios vinhos, Don Maximiano, Seña e Viñedos Chadwick, todos elaborados com base de cabernet sauvignon, e instalou-­os ante grandes nomes de Bordeaux, como Château Margaux e Château Lafite Rothschild, ambos da safra 2000, donos de 100 pontos do renomado crítico americano Robert Parker, e ante rótulos da Toscana, como o Solaia. Sem saber o que estavam degustando, os críticos escolheram dois vinhos chilenos como os melhores daquele painel. E o resultado foi uma aprovação global da bebida produzida no Chile, não apenas aqueles de Chadwick. A partir de então, passou-se a reconhecer a qualidade dos bravos rótulos produzidos na América do Sul.

Agora, vinte anos depois, uma nova rodada de degustações está sendo organizada em cidades como Tóquio, Seul, Zurique, Toronto e Nova York. Desta vez, a prova não será às cegas, mas vertical, quando várias safras de um mesmo vinho são provadas. O objetivo é mostrar como o vinho chileno evoluiu com o tempo, ao comemorar o episódio de vinte anos atrás. E a turnê levanta uma pergunta fundamental: de onde virá a próxima revelação, a surpresa a vencer os campeões?

REVOLUÇÃO - Julgamento de Paris, em 1976: vitória dos rótulos americanos
REVOLUÇÃO – Julgamento de Paris, em 1976: vitória dos rótulos americanos (Bella Spurrier/.)

Não é nova a ideia de experimentação às cegas para colocar outro país no mapa dos vinhos. Em 1976, o negociante de vinhos britânico Steven Spurrier, na época vivendo em Paris, resolveu medir rótulos dos Estados Unidos, sem nenhuma tradição, ante ícones de Bordeaux e da Borgonha. A proposta foi vista com ceticismo, mas vários especialistas se apresentaram na ocasião, dispostos a assegurar a superioridade francesa. O que aconteceu, no entanto, foi o oposto. O tinto Stag’s Leap Wine Cellars, elaborado com a uva cabernet sauvignon, bateu concorrentes como Château Mouton-­Rothschild e Château Haut-Brion, ícones bordaleses, e ficou em primeiro lugar. O branco Chateau Montelena, feito com chardonnay, também superou, com folga, o segundo colocado, o Mersault Charmes Roulot, da Borgonha. Os vinhos californianos mostraram que havia ótima qualidade no Vale de Napa e o mundo ficou surpreso. A incrível história virou até filme, O Julgamento de Paris, de 2008, com Alan Rickman (1946-2006), o Snape de Harry Potter, no papel de Spurrier.

O impacto de degustações de olhos vendados é imenso, de forma a derrubar preconceitos com a origem de determinados vinhos. Foi assim com os americanos, na década de 1970, e com os chilenos, no início dos anos 2000. A qualidade é assegurada sem que os especialistas saibam a origem. “Não precisamos mais provar nada”, disse Eduar­do Chadwick a VEJA. “Mas ainda existem desafios, como conseguir entrar em restaurantes estrelados pelo Michelin, muitos deles na França, onde imperam chefs e sommeliers franceses. Mas não se questiona mais a qualidade de nossos vinhos.” Depois da prova de Berlim, outros grandes tintos chilenos, como Don Melchor e Almaviva, por exemplo, também começaram a ser cobiçados pelos colecionadores e enófilos de várias partes do mundo.

Continua após a publicidade
TERROIR - Vinhedo no Chile: ótimas condições para trabalhar boas safras
TERROIR - Vinhedo no Chile: ótimas condições para trabalhar boas safras (Hoberman Collection/Getty Images)

Imaginar as futuras surpresas, insista-se, é movimento fascinante. Vários países já são reconhecidos pela qualidade de seus vinhos, como Argentina, África do Sul e Nova Zelândia, mas nunca realizaram um teste semelhante. Outros, como a China, vêm avançando na produção, mas a bebida feita por aquelas bandas é praticamente desconhecida no Ocidente, e ainda há insistente tabu. É chegado o momento de saber mais sobre a produção asiática e ampliar, como se deve, o conhecimento. Só não vale o prejulgamento.

Publicado em VEJA de 3 de maio de 2024, edição nº 2891

Publicidade

Imagem do bloco
Continua após publicidade

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.