Sommelier lança primeiro livro nacional sobre vinho natural
Conhecida por ser uma agitadora do mundo dos orgânicos, Lis Cereja reúne informações técnicas, conceituais e históricas sobre o tema
Se há seletividade do que vai no prato, por que não haveria em relação ao conteúdo do copo? A tendência da alimentação saudável se estende cada vez mais ao universo das bebidas. Entre os alcoólicos, o mercado dos vinhos naturais é muito promissor e deve atingir 24,5 bilhões de dólares em 2028, segundo o relatório do Organic Wine Market Forecast. E, isso mesmo diante de muitos consumidores que não sabem a diferença entre um vinho orgânico e convencional e outros tantos que torcem o nariz para novidades. Mas aos poucos, as resistências vão sendo quebradas.
Recentemente, saiu do forno o primeiro livro nacional sobre o assunto. Com o título “Vinho Natural”, a obra é o resultado de duas décadas de pesquisa da sommelier Lis Cereja, fundadora da Enoteca Saint Vin Saint, em São Paulo, um santuário da comida e dos vinhos orgânicos. Conhecida por ser uma agitadora desse mundo natural –é a criadora da Feira Naturebas, a maior e primeira do setor –a empresária esclarece dúvidas frequentes. Vinho natural tem que ser bebido jovem? Ou, orgânico é igual a biodinâmico? No livro, descobre-se que os dois levam uvas livres de agrotóxicos, mas a produção biodinâmica considera fatores como o calendário lunar e a astrologia. Cada um deles foi contemplado com um capítulo. Lis também conta um pouco de história e dá informações técnicas.
“Este é um livro que trata das origens do movimento do vinho natural no mundo e também no Brasil”, diz ela. E como a uva vem da terra, a autora não teve como escapar do tema agricultura sustentável, orgânica biodinâmica e convencional. Os conservantes e aceleradores químicos da fermentação usados na indústria convencional foram esmiuçados. Mas não espere um livro técnico. Como tudo o que Lis coloca a mão, tem muito da personalidade dela.
A autora é acima de tudo uma ativista. Quando lançou a Feira Naturebas, em 2013, o material de divulgação trazia uma série de fotos artísticas dela e do marido sem roupas. Neste novo trabalho, as fotos também são um ponto alto. Foram usadas imagens retiradas do documentário “Free Range doc”., um longa independente produzido pela autora em parceria com o fotógrafo Fabio Knoll, sobre os vinhos naturais. A boa forma e bela aparência de Lis são mais uma vez bem exploradas, mas sempre com muita elegância dentro do contexto cenográfico das vinícolas. Os exemplares já estão à venda no link da bio e no site da @afluente.art ! O lançamento oficial será no Rio de Janeiro, no Prosa na Cozinha, dia 29. Para entender qual é a pegada da autora, abaixo alguns trechos do livro:
Os aditivos
“São centenas os aditivos enológicos e técnicas empregados na elaboração dos vinhos ditos ‘normais’, ‘convencionais’ ou ‘comerciais’. Aditivos enológicos são equivalentes aos aditivos alimentares da indústria de alimentos, mas a grande desvantagem para o vinho é que não é obrigatória a listagem desses aditivos no rótulo, o que leva muitas pessoas a pensarem que o vinho é feito apenas de uvas.”
O vinho natural
“A legislação que defina rigorosamente o que constitui um vinho natural, levando-nos a aderir ao consenso forjado pelo próprio movimento: o vinho natural é aquele no qual nada se adiciona e nada se retira. Em essência, é um vinho proveniente de uvas saudáveis, cultivadas de forma orgânica ou biodinâmica, e vinificado sem a inclusão de aditivos enológicos ou intervenções invasivas. É, simplesmente, o suco de uva fermentado, sem mais artifícios.”
Defeito ou característica?
Mas se toda uma geração de consumidores e sommeliers se formou com base no gosto e aromas dos vinhos fabricados para o mercado, como realmente identificar o que é defeito e o que é característica? Para responder a essa pergunta, devemos começar pelo começo: na compreensão de que nossos padrões de qualidade são construídos pelo ambiente, pelo mercado por interesses dominantes. Comparando a experiência de alguém acostumado a degustar vinhos comerciais que se propõe a provar um vinho natural, é como esperar que alguém acostumado ao sabor artificial do iogurte de morango possa avaliar a complexidade de um morango fresco. Não podemos aplicar os mesmos critérios a vinhos naturais e comer- ciais, assim como não podemos comparar mulheres reais com versões de mulheres editadas por photoshop em busca de um padrão feminino imposto pelo nosso meio e época.”
Leia mais:
+https://beta-develop.veja.abril.com.br/coluna/al-vino/a-mais-nova-e-surpreendente-fronteira-para-a-producao-de-vinhos-nacionais