Em sete anos de atividade, o Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (Amtigos), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo, já atendeu 534 pessoas que enfrentavam o peso das dúvidas sobre a identidade de gênero. Aberto em 2010, há dois anos recebe apenas crianças e adolescentes de até 17 anos, com atendimento e orientação para os jovens e seus pais.
À frente desse trabalho está o psiquiatra Alexandre Saadeh, de 56 anos, que se tornou referência na área. Formado pela Universidade de São Paulo, ele estuda a sexualidade humana há mais de vinte anos e se doutorou, também pela USP, em 2004, com a tese “Transtorno de identidade sexual: um estudo psicopatológico de transexualismo masculino e feminino”. Ao criar o ambulatório, seis anos depois, imaginava que o público seria majoritariamente adulto. No início foi, mas com relatos quase unânimes de que a questão de identidade de gênero aparecia na infância e na adolescência. Aos poucos, a procura de menores de 18 anos cresceu substancialmente, e Saadeh decidiu entrar na assistência para essa faixa etária, hoje um diferencial do centro médico.
Com o foco do atendimento nos primeiros anos de vida ou na adolescência, o serviço consegue evitar situações arriscadas, como a ingestão de hormônios sem prescrição (há idades de referência para cada passo do tratamento), afastar diagnósticos precipitados e oferecer apoio psicológico a toda a família. “A importância do ambulatório é criar um espaço seguro para essas crianças e adolescentes que não têm lugar na sociedade”, afirma Saadeh. O profissional diz que vibra cada vez que um jovem “se encontra” com sua identidade de gênero, seja como trans ou não: “Considero fantástico acompanhar essas histórias desde o início, na fase em que o sofrimento é mais comum”.
Com o pioneirismo do trabalho, o especialista passou a ser procurado por profissionais de saúde e educação com dúvidas sobre identidade de gênero. A convite do Conselho Federal de Medicina (CFM), ele foi escalado neste ano para ser coautor da nova portaria nacional sobre o tema, que, ele espera, auxiliará no atendimento desses jovens em todo o país. Atualmente, as autorizações para tratar conflitos de identidade de gênero em crianças são decididas uma a uma pelo CFM a partir da proposta de intervenção de cada médico ou ambulatório — ou seja, inexiste um protocolo que permita autonomia nos consultórios. Não há, reconhece Saadeh, caminho fácil para lidar com a questão. Certos detalhes, porém, podem ser muito significativos para os pacientes. “Adolescentes me abraçam e agradecem apenas por tratá-los no feminino ou no masculino, uma coisa tão simples”, relata. “Não tem como não se emocionar.”
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