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“Antes tinha medo do sucesso acabar, hoje estou mais segura”, diz Rafa Tuma

Depois de viralizar na internet com vídeos de humor, ilustradora reflete sobre sua carreira como influenciadora

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 ago 2024, 22h59 - Publicado em 21 ago 2024, 20h00
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  • Em 2022, quando a ilustradora Rafaella Tuma viralizou na internet, o mundo parecia um lugar completamente diferente. Após a pandemia de Covid-19, que trancou a maior parte do planeta em rotinas solitárias forçadas pelo isolamento social, as pessoas buscavam desesperadamente qualquer motivo para sorrir. E foi aí que Rafa, com suas ilustrações simples e áudios ingênuos e divertidos, captou perfeitamente o espírito da época. Não demorou para chamar a atenção de celebridades como Fábio Porchat, Xuxa, Ana Maria Braga e até do “big boss” Boninho, que a convidou para criar um quadro humorístico na edição de 2023 do Big Brother Brasil, um dos programas de maior audiência do país.

    Os seguidores começaram a pipocar, e hoje ela já soma mais de 5 milhões de fãs fiéis que aguardam ansiosamente seus vídeos quase diários. Mas, apesar do sucesso meteórico, Rafaella confessa que mal teve tempo de aproveitar o boom: “Me concentrei em produzir mais do que nunca,” revela. E esse esforço valeu a pena, afinal, antes da baratinha—sua mascote que virou marca registrada—ela havia tentado de tudo para emplacar. Nada, portanto, foi menos instantâneo, e ainda assim, completamente imprevisível, quanto ao seu sucesso. Dois anos se passaram desde que Rafa entrou em choque ao atingir a sonhada marca de um milhão de seguidores e largou tudo para se dedicar exclusivamente a internet – entrando em pânico com esse novo mundo que se abria. De lá para cá, ela está muito mais segura e consciente de onde quer chegar com o seu trabalho. Em entrevista exclusiva a VEJA, Rafaella refletiu sobre sua carreira, sonhos e projetos futuros, além de falar sobre inteligência artificial e até sons de cachorros comendo.

    Você imaginava que criaria uma linguagem tão reconhecível como a sua?

    Não, nunca passou pela minha cabeça! Comecei a perceber quando passaram a me mandar prints de grupos no Facebook que diziam “procura-se alguém no estilo Rafaella Tuma”. Eu pensava: estilo? Não tenho nem roupa pra isso. Acho que acabou misturando essa coisa dos desenhos simples, com a dinâmica dos memes… mas é uma loucura que isso tenha virado o “estilo Rafa Tuma”.

    E onde você buscou inspiração para criar sua linguagem?

    Foi uma mistureba de coisas. Não teve um lugar específico onde eu pensei “isso aqui está dando muito certo, vou usar na minha linguagem”. Consumo tanto conteúdo, desde animação até quadrinhos, que acho que foi um compilado disso tudo. Por exemplo, a Turma da Mônica, se a gente pensar nos gibis, aqueles três quadrinhos finais são memes prontos para a internet. Tem muito do Ziraldo, da Turma da Mônica, e das animações tradicionais que influenciaram bastante. Hoje em dia, minhas animações são mais elaboradas, com mais frames, mas ainda busco inspiração naquelas cenas exageradas de desenho animado, como o Papa-Léguas prestes a cair do penhasco e o Máscara vendo a mulher bonita com os olhos saltando e corações nos olhos. Aquela coisa bem exagerada dos desenhos antigos. Busco muito daquela simplicidade e eficácia.

    VEJA MAIS: Fernando Venâncio: “A língua portuguesa não nasceu com os portugueses”

    Como foi perceber que essa “brincadeira” estava virando algo grande. Deu medo?

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    Um dia meu marido entrou no escritório perguntando se a gente ia fazer o “churrascão do milhão”. Eu quase não acreditei, apenas alguns dias antes eu tinha atingido os 500 mil. Foi uma informação que eu não estava preparada para processar naquele momento. Me deu um calor, comecei a suar, fiquei toda travada. Caiu a ficha de que eu ia realmente trabalhar com internet. Eu estava vendo meu sonho ali. Nesse momento, eu abracei a oportunidade, larguei outros projetos, fiz meu marido largar o emprego também. Foi um ano de pânico. Eu tinha que fazer dar certo, não tinha mais como voltar atrás. Bateu uma insegurança enorme, medo de ser algo momentâneo. Nesse primeiro ano, eu praticamente não curti nada. Eu ficava tentando entender o algoritmo, tentando me orientar. Depois você vai entendendo como funciona, você passa por muitos altos e baixos, com meses com muita publicidade, com pouca publicidade, com muito seguidor, com pouco seguidor e aí assim como qualquer outra profissão nova, você vai pegando jeito. 

    Você se sente mais confiante agora?

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    VIRALIZOU: Vídeo que ilustrava a música “Eu sou um cordeirinho, Jesus é meu pastor” foi o primeiro grande sucesso na internet – (Instagram/Reprodução)

    Hoje em dia  não estou mais ansiosa com esse assunto. Tenho outras ansiedades, mas com o trabalho eu me sinto bem mais tranquila. Antes, eu tinha um medo enorme de sair da mídia, de flopar, mas aprendi a lidar com isso. Entendi que quem trabalha com criação de conteúdo precisa estar em constante mudança, tanto no humor quanto no estilo dos vídeos. Isso coloca uma pressão, mas eu também fui ficando menos deslumbrada com esse mundo. A internet é muito líquida: de uma hora pra outra você aparece, de uma hora pra outra você some. O jeito de se manter é fazendo um trabalho bem feito e tentando sempre se adaptar.

    Teve algum momento que você olhou e pensou: “não tô acreditando que isso tá acontecendo comigo”?

    Quando eu fui chamada para ser ilustradora do BBB, foi um desses momentos. Eu tinha apenas oito meses de internet e não sabia que ia chegar ali. Mas, até hoje, não me acostumei com essas coisas. Às vezes, alguém famoso me aciona no Instagram ou no WhatsApp e eu penso: “Nossa, como essa pessoa está falando comigo?” E aí, você finge costume. O Luciano (da dupla com o Zezé de Camargo) me mandou uma mensagem esses dias dizendo que tinha um áudio muito legal de uma história com as galinhas dele. Ou o Porchat, quando me pede algum vídeo também, eu fico pensando: “Gente, como estou conversando com essas pessoas?” Até hoje, eu não acredito nisso.

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    Se discute muito, por exemplo, o papel das inteligências artificiais na indústria criativa. Como você usa inteligências artificiais para produzir? Como você acha que isso impacta o trabalho que você faz?

    Em algum momento a inteligência artificial vai estar muito inserida nesse meio e não sei o quanto vamos conseguir evitar que isso aconteça. Mas eu, como artista, fujo o máximo possível. Eu sou do movimento da dublagem viva, e tento ao máximo não usar inteligência artificial nas nossas dublagens, nas nossas artes, nos nossos cenários e animações. Em todas as nossas etapas, a gente não usa inteligência artificial de jeito nenhum, até porque o nosso processo ainda é muito manual.

    Você está onde queria estar quando começou nessa trajetória?

    Teve um período em que eu achava que eu estava muito mais do que eu deveria estar. Eu realmente achava que não dava conta de estar neste lugar que eu ocupava, de estar à frente de uma página com muitos seguidores, com muita responsabilidade. Eu estava muito mais insegura. Hoje, como já tenho uma projeção de onde posso chegar, tenho muitos planos para frente.

    Que planos são esses?

    Meu plano principal é fazer séries, nas redes sociais e fora delas. Quem sabe pegar mais streamings… Gosto muito quando consigo ter uma linha de pensamento de roteiro contínuo. Mas também tem outras coisas que eu quero expandir. Queria fazer livros em quadrinho, mas preciso arranjar um tempo para isso. Quero muito fazer produtos, tanto de vestimentas, papelaria… Enfim, há muitos sonhos ainda. 

    E como você se diverte na internet? Qual o tipo de conteúdo que você consome?

    Eu consumo tanto tipo de conteúdo. Mas o que eu mais gosto ainda é humor, entretenimento, esse estilo de esquete, de bobeira. Quanto mais bobo, melhor.

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    E não enjoa, já que você produz conteúdos desse tipo? 

    Tem isso sim. A gente fica com o olhar tão clínico para vídeo, que mesmo quando vou consumir algo só para rir, fico analisando. “Isso aqui deu certo por causa disso, isso aqui deu errado por causa daquilo, isso aqui tem muito corte, a piada demorou muito para acontecer”. Fico focada procurando o que deu certo e o que deu errado. Quando quero realmente sair, antes de dormir, por exemplo, não posso pegar no celular, senão fico concentrada e tendo ideias. Aí vou para série de TV ou filme. Eu assisto muitos filmes, de preferência terror, que é uma coisa que eu não vou usar para produzir meu conteúdo. Eu também adoro ver cachorro comendo, o que é estranho, eu sei. Sigo várias páginas de cachorro comendo daqueles barulhos de ASMR, com filhotes comendo todo tipo de coisa. Acho relaxante (risos).

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