Existe diferença entre as famigeradas saudações romana e nazista?
Elon Musk, em seus discursos na posse de Donald Trump, gesticulou com os braços em movimentos que lembravam ambos os cuprimentos, mas negou que sejam ofensivos

Os gestos de Elon Musk durante a posse de Donald Trump geraram controvérsia, principalmente devido à semelhança com a saudação nazista. Este incidente ocorreu durante um comício na Capital One Arena em Washington, D.C., logo após Trump ser empossado como o 47º presidente dos Estados Unidos no dia 20.
Durante seu discurso, Musk colocou a mão direita sobre o peito e estendeu o braço para fora com a palma voltada para baixo, repetindo esse movimento várias vezes. Essa ação atraiu comparações imediatas com a saudação nazista, com historiadores e usuários de mídia social notando sua semelhança alarmante com imagens fascistas associadas ao regime de Adolf Hitler.
A reação foi rápida e generalizada. Ruth Ben-Ghiat, historiadora da Universidade de Nova York, declarou que era de fato uma saudação nazista e a descreveu como “muito beligerante”. Em resposta às críticas, Musk minimizou as acusações, sugerindo que os críticos precisavam de “melhores truques sujos” e menosprezando as alegações de quem o repreendeu.
Qual a semelhança?
A saudação nazista, apesar de frequentemente ser chamada de “saudação romana“, não tem origem na Roma Antiga. Não há nenhuma evidência em obras de arte romanas, como esculturas, moedas ou pinturas, que mostre uma saudação semelhante à utilizada no fascismo, nazismo e ideologias relacionadas.
A literatura romana também não menciona tal saudação. Gestos com o braço ou mão direita levantados em culturas romanas e outras antigas, que são retratados em obras de arte e literatura, tinham funções diferentes e nunca se assemelham à saudação moderna de braço reto.
A saudação nazista, com o braço estendido para a frente em um ângulo de cerca de 135 graus, foi inspirada em pinturas do final do século XVIII e peças teatrais populares do final do século XIX que retratavam a Roma Antiga. O pintor Jacques-Louis David, em seu quadro O Juramento dos Horácios (1784), retratou os Horácios com os braços estendidos em um gesto semelhante ao que mais tarde se tornaria a saudação nazista. Essa pintura influenciou significativamente a percepção da Roma Antiga, popularizando a ideia de que os romanos usavam uma saudação com o braço estendido.

Gabriele D’Annunzio, poeta e nacionalista italiano, foi o primeiro a usar a saudação de braço estendido com um significado ideológico e propagandístico durante sua ocupação de Fiume em 1919. Ele adotou o gesto de museus clássicos e de representações de oradores e governantes greco-romanos, acreditando que era uma saudação viril e poderosa. Benito Mussolini e os fascistas italianos adotaram o gesto, seguido por Adolf Hitler e os nazistas alemães.
A saudação nazista se diferenciava da saudação fascista por ser frequentemente acompanhada pela frase “Heil Hitler!”. Além disso, Hitler usava uma variante da saudação com o braço direito levantado e dobrado no cotovelo, com a palma da mão voltada para cima horizontalmente. Essa variante, chamada de “Führergruß”, o distinguia de seus subordinados.
É crucial destacar que a saudação nazista era um gesto de opressão e violência, usado para impor a ideologia nazista e incutir medo nos oponentes do regime. Após a Segunda Guerra Mundial, a saudação nazista foi proibida na Alemanha e em muitos outros países devido à sua associação com o regime nazista.