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A casa de Brad Pitt que não deu certo

Como o sonho de moradia popular e sustentável do ator para sobreviventes do furacão Katrina se transformou em um pesadelo, transformando-o em réu

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jan 2022, 18h00 - Publicado em 31 jan 2022, 17h49

Recentemente, a fundação Make It Right, de Brad Pitt, construiu 109 casas em Nova Orleans, nos Estados Unidos, para uma comunidade de pessoas que ficaram desabrigadas pelos danos causados ​​pelo furacão Katrina, em 2005. Só que agora, este conjunto habitacional está em completa desordem. A grande maioria das casas recém construídas está repleta de problemas relacionados à construção como mofo, cupins, madeira podre e vazamentos. Pelo menos seis estão trancadas e abandonadas e muitos moradores tiveram que entrar com ações judiciais contra a organização sem fins lucrativos, que embora tenha contado com a colaboração de arquitetos renomados como Frank Gehry, foram feitas em meio a questões que se tornaram mais um desastre para os sobreviventes.

Os problemas estruturais são tão grandes que moradores estão temendo até por sua saúde. E a Make It Right, além de não resolvê-los, simplesmente parou de auxiliar os moradores. Especula-se, inclusive, que a organização liderada por estrelas de cinema já nem exista mais. Na verdade, a ONG vem enfrentando dificuldades desde 2018, quando os proprietários tentaram envolver o Conselho da Cidade de Nova Orleans para fazer com que as autoridades municipais inspecionassem as casas. Desde então, a situação só piorou.

Localizado em Lower Ninth Ward, bairro historicamente negro e de baixa renda, em Nova Orleans, esse conjunto de casas populares construídas entre 2008 e 2015 já traziam detalhes incomuns. Em primeiro lugar, essas residências foram vendidas, e não alugadas. A Make It Right informou que gastou US$ 26,8 milhões no projeto de habitação. Para construir as casas, que ficaram aquém da meta original do grupo de 150 residências populares, elas foram vendidas por menos do que seu custo, em torno de US$ 150.000.

Depois, porque os arquitetos tentaram torná-las sustentáveis, ​​seguindo uma filosofia que se concentra no uso de materiais seguros e reutilizáveis, água limpa e energia renovável. Ou seja, todas as casas deveriam ter painéis solares e sistemas de aquecimento e refrigeração eficientes. A Make It Right também construiu uma horta comunitária e realizou reuniões entre os novos proprietários. Só que muitas não tinham características comuns e essenciais, como calhas de chuva, saliências, pintura à prova d’água ou vigas cobertas – todas necessárias para suportar o clima subtropical e as fortes chuvas de Nova Orleans. Embora algumas dessas estruturas ainda não tenham completado uma década de construção, apenas seis permanecem em boas condições. No início de 2022, mais seis casas estavam vazias por causa de mofo, podridão, vazamentos e problemas estruturais variados, e duas foram demolidas.

Os que ainda estão por lá, vivem na incerteza de não saberem quanto tempo suas casas vão aguentar, se o mofo a que foram expostos está afetando sua saúde e, pior, o que aconteceria com suas finanças se perdessem suas residências. “Algo que tem sido uma decepção incrível é a falta, a retirada do Make It Right de qualquer forma de responsabilidade”, disse um morador. Qualquer tentativa de entrar em contato com a Make It Right por correio, e-mail e visitas pessoais não tem sucesso.  As autoridades também não se manifestam sobre o assunto, e as ações judiciais continuam pendentes.

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Brad Pitt assumiu o crédito pelo lançamento desta organização em 2007 e, muitas vezes, atuou como seu rosto público nos anos seguintes. Hoje ele é réu por conta de seu papel como fundador e principal arrecadador de fundos da Make It Right.

Quem paga no final?

Como as propriedades abandonadas estão se tornando um risco de segurança pública, a cidade está tomando medidas para apreendê-las. Os registros de 2018 da Make It Right indicam que a empresa estava gastando mais em serviços jurídicos do que em construção e manutenção. Isso reflete nas experiências dos moradores, que há anos não veem evidências do envolvimento da organização com sua comunidade. Muitos estão começando a pagar pelos reparos do próprio bolso, em vez de esperar que o empresa resolva os problemas causados ​​por sua construção de má qualidade. “Eu mesmo fiz a maior parte do trabalho”, disse Mario, morador do local. “As telhas do teto da varanda estavam caindo e a madeira estava apodrecendo, então eu a recoloquei, lentamente, para que pudéssemos pagar”.

Apesar de suas experiências, alguns moradores disseram que ainda acreditam que o fundador da Make It Right tinha boas intenções. “Não culpo Brad Pitt”, disse David, também morador da comunidade. “Ele teve a visão de construir casas de baixa renda e trazer as pessoas de volta ao Lower Ninth Ward”, afirmou.

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