A crise diplomática que abala a BBC após transmissão de show com gritos contra Israel
Emissora lamenta não ter cortado o programa, dizendo que foi 'completamente inaceitável'; governo britânico e embaixada israelense cobram explicações

A emissora pública britânica BBC pediu desculpas nesta segunda-feira, 30, por não ter cortado a transmissão ao vivo de um show no festival de Glastonbury, que viu declarações consideradas anti-Israel feitas pela banda Bob Vylan.
O episódio ocorreu no sábado 28, durante a apresentação do grupo de punk-rap, quando os integrantes incentivaram o público a entoar gritos de “morte às Forças de Defesa de Israel”, como é chamado o Exército do país, além de “Palestina livre”, no contexto do conflito em Gaza.
“Com o benefício da retrospectiva, deveríamos ter interrompido a transmissão durante a apresentação. Lamentamos que isso não tenha ocorrido”, afirmou a BBC em comunicado.
Mas foi além nesta segunda, afirmando que não deveria ter permitido a transmissão dos gritos contra Israel e que vai atualizar suas diretrizes sobre eventos ao vivo.
“A BBC respeita a liberdade de expressão, mas se posiciona firmemente contra a incitação à violência. Os sentimentos antissemitas expressos por Bob Vylan foram totalmente inaceitáveis e não têm lugar em nossas ondas. Saudamos a condenação do Glastonbury à apresentação”, disse a emissora.
Em publicação no Instagram no domingo, Bobby Vylan, o vocalista principal da banda, disse que seu telefone estava “vibrando sem parar, inundado de mensagens de apoio e ódio”. Ele disse: “Ensinar nossos filhos a se manifestarem pela mudança que desejam e precisam é a única maneira de tornarmos este mundo um lugar melhor.”
A apresentação não passou na TV, mas pôde ser assistida ao vivo no sábado por meio de uma transmissão no iPlayer.
Condenação e pedidos de explicação
A Ofcom afirmou que a BBC “claramente tem perguntas a responder” após o episódio. “Temos conversado com a BBC durante o fim de semana e estamos obtendo mais informações com urgência, incluindo os procedimentos em vigor para garantir a conformidade com suas próprias diretrizes editoriais”, afirmou.
Os organizadores do festival já haviam condenado os cânticos iniciados por Bob Vylan, afirmando estarem “consternados com as declarações” feitas no palco. “Seus cânticos ultrapassaram em muito os limites e estamos lembrando urgentemente a todos os envolvidos na produção do festival que não há lugar no Glastonbury para antissemitismo, discurso de ódio ou incitação à violência”, disseram eles no domingo.
Starmer condenou a apresentação no fim de semana, descrevendo-a como “um discurso de ódio terrível”. A secretária de Cultura, Lisa Nandy, conversou com Davie, o diretor da emissora, em busca de uma explicação. Chris Philp, o secretário sombra do Interior, foi muito além, pedindo que a polícia “investigue e processe urgentemente a BBC”.
A embaixada de Israel no Reino Unido criticou duramente o episódio, classificando a performance como uma “glorificação da violência”.
“Cantos como ‘morte ao exército israelense’ e ‘do rio ao mar’ são slogans que defendem o desmantelamento do Estado de Israel e pedem implicitamente a eliminação da autodeterminação judaica. Quando essas mensagens são recebidas com aplausos por milhares de espectadores, isso levanta questões sérias em relação à normalização da linguagem extremista e à glorificação da violência”.