A curiosa iniciativa de governo das Filipinas diante de aumento alarmante de casos de dengue
Há preocupações de que programa possa sair pela culatra, como aconteceu no Rio de Janeiro no início do século XX

Diante do avanço alarmante de casos de dengue, o governo de uma vila na região metropolitana de Manila, Filipinas, adotou uma abordagem inusitada: pagar moradores para capturarem mosquitos. A iniciativa, embora criativa, gerou polêmica e levantou preocupações de que o programa possa sair pela culatra — como aconteceu no Rio de Janeiro no início do século XX.
Na quarta-feira, 19, dia do lançamento do programa, centenas de moradores compareceram com copos e sacolas plásticas cheias de mosquitos. Para cada cinco insetos entregues, recebiam um peso filipino (aproximadamente 10 centavos de real). Para validar as entregas, os organizadores utilizavam um mata-mosquitos ultravioleta. Um dos participantes conseguiu reunir 45 larvas e saiu com nove pesos filipinos, segundo o jornal britânico The Guardian.
A decisão de implementar o projeto veio após um crescimento preocupante nos casos de dengue no país. Apenas em janeiro, mais de 28 mil infecções foram registradas, um aumento de 40% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em Quezon City, a cidade mais populosa do arquipélago, um surto foi declarado após dez mortes desde o início do ano.
No entanto, especialistas alertam que a iniciativa pode ter efeitos colaterais. Albert Domingo, porta-voz do Departamento de Saúde das Filipinas, teme que a medida possa incentivar alguns moradores a criar mosquitos intencionalmente para obter a recompensa. “Se você estiver disposto a dar um prêmio em dinheiro por algo, talvez pudéssemos considerar concursos de limpeza“, ponderou, ressaltando que não estava condenando o programa.
A medida já foi testada no Brasil. Durante a grande reforma urbana do Rio de Janeiro no início do século passado, quando a cidade ainda era a capital federal, o sanitarista Oswaldo Cruz criou uma campanha que recompensava em dinheiro quem eliminasse cinco ratos por dia — uma medida contra a peste bubônica transmitida pela pulga dos ratos.
Desempregados e malandros, no entanto, começaram a criar ratos em cativeiro para vender para o governo. Houve então uma nova infestação de roedores, dada a capacidade de reprodução dos bichos.