A forte repercussão internacional da decisão que torna Bolsonaro réu por tentativa de golpe
Votação do Supremo Tribunal Federal (STF) foi alvo de matérias de jornais dos Estados Unidos, Reino Unido, Argentina, Espanha e Alemanha

Em votação unânime, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) tornou nesta quarta-feira, 26, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e sete aliados réus por tentativa de golpe de Estado em 2022, atraindo atenção da imprensa internacional. Em fevereiro, Bolsonaro foi acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.
O jornal americano The New York Times aponta que “a decisão marca um esforço significativo para responsabilizar o Sr. Bolsonaro pelas acusações de que ele tentou efetivamente desmantelar a democracia brasileira ao orquestrar um amplo plano para dar um golpe”. O texto afirma ainda que “o julgamento, que ainda não foi marcado, é fruto de uma investigação abrangente de dois anos, na qual a polícia invadiu casas e escritórios, prendeu pessoas próximas ao Sr. Bolsonaro e obteve uma confissão importante de um assessor sênior do ex-presidente”.

O britânico The Guardian diz que “a decisão deixa o populista de extrema direita, que governou o Brasil de 2019 até o final de 2022, enfrentando o esquecimento político e uma possível pena de prisão de mais de 40 anos”, acrescentando que “esses ataques — que muitos acreditam ter sido inspirados pela invasão do Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021 — foram supostamente incitados como parte de uma tentativa desesperada de devolver Bolsonaro à presidência, contra a vontade pública, criando turbulência que justificaria uma intervenção militar”.
Por sua vez, a emissora alemã Deutsche Welle destaca que “é a primeira vez que um ex-presidente eleito é colocado no banco dos réus por crimes contra a ordem democrática estabelecida com a Constituição de 1988”. A reportagem relembra, ainda, que, “conforme a acusação da PGR, Bolsonaro tinha conhecimento do plano intitulado “punhal verde amarelo”, que continha o planejamento e a execução de ações para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes”.

A história ocupou a manchete do jornal espanhol El País, que indicou: “Não é incomum que um ex-presidente seja acusado ou julgado criminalmente no Brasil; o que é inédito é que ele será levado a julgamento por um golpe”. Em outro momento, o veículo afirma que “dos oito presidentes que o Brasil teve desde o fim da ditadura, sete foram acusados de diversos crimes, mas apenas um, Lula, foi julgado e condenado por corrupção, tendo sido anulado em vários casos por vício processual”.
“A pedra angular da acusação contra Bolsonaro e os demais acusados de planejar o golpe é a confissão do secretário pessoal do ex-presidente. O tenente-coronel Mauro Cid, inicialmente investigado por falsificação do registro de vacinação de seu superior durante a pandemia, decidiu cooperar com os investigadores em 2023 após um período em prisão preventiva”, pontua o El País.
Seu depoimento e seu número de celular provaram ser uma mina de ouro para a polícia porque ele era o intermediário de Bolsonaro em suas negociações com os outros supostos golpistas. O ex-presidente tentou, sem sucesso, anular esse acordo judicial”, conclui.

O francês Le Monde declarou que se trata de “uma decisão histórica que mina suas esperanças de retornar ao poder”, sendo simbólica pelo fato de o Brasil ser um “país ainda assombrado pela memória da ditadura militar (1964-1985)”. O texto, além disso, diz: “Autoproclamado nostálgico dos anos de chumbo, o ex-capitão do exército de 70 anos é acusado pela promotoria de ter arquitetado uma conspiração de longa data para permanecer no poder ‘a todo custo'”.
Já na América Latina, o jornal argentino Clarín explica que “o ex-presidente só poderá permanecer preso durante o julgamento se houver risco de fuga ou se ele fizer algo que atrapalhe o andamento do julgamento”, mas que “se condenado, Bolsonaro poderá enfrentar uma longa pena de prisão de mais de duas décadas”.