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A guerra que não acabou: 70 anos de conflito na Coreia

A briga entre o Sul e Norte resistiu à queda da Cortina de Ferro e não dá sinais de terminar tão cedo; Entenda os motivos que impedem a paz

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 25 jun 2020, 19h47 - Publicado em 25 jun 2020, 19h27

O primeiro conflito da Guerra Fria completa 70 anos hoje. Em 25 de junho de 1950, tropas norte-coreanas invadiram a Coréia do Sul em uma tentativa de reunir os dois países. Teve início, assim, um conflito que matou cerca de dois milhões de pessoas, trouxe a destruição de boa parte dos dois países, envolveu as grande potências mundiais e nunca chegou ao fim.

Após três anos de batalhas, um armistício acordado entre os EUA, China e Coréia do Norte, colocou fim ao conflito armado. A Coréia do Sul, porém, não concordou com os termos e nenhum tratado formal de paz foi assinado. Tecnicamente, as duas Coreias permanecem em guerra. 

O fim da II Guerra Mundial repetiu na Península Coreana o arranjo de divisões de áreas estratégicas proposto na Europa. O norte ficaria sob domínio soviético, liderado pelo Partido dos Trabalhadores de Kim Il-Sunge. Já o sul estaria sob domínio americano, representado no governo de Syngman Rhee. Entre os territórios, o paralelo 38 Norte, a fronteira artificial que divide os dois países.

Durante a guerra, as tropas do norte foram apoiadas pelos soviéticos e pela China. Já as forças do sul receberam apoio das Nações Unidas, lideradas pelos EUA. O fim da União Soviética, em 1989, e a queda da cortina de ferro, porém, não possibilitaram que o país fosse reunificado – como aconteceu com a Alemanha. Até hoje, os conflitos continuam a ecoar, em uma das regiões mais tensas do mundo. 

Se os dois países nunca chegaram novamente às vias de fato, não faltaram ameaças, provocações, espionagem, episódios de violência que quase descambaram para o conflito armado, e muitas discussões nos bastidores da diplomacia.

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Sob influência do Partido Comunista Chinês, a Coreia do Norte se tornou uma das maiores ameaças ao mundo ocidental, ao desenvolver seu programa nuclear, enquanto a Coreia do Sul virou exemplo de desenvolvimento econômico do capitalismo moderno.

Ao longo dos 70 anos, muitos episódios ajudam a explicar porque as Coreias permanecem separadas e afastadas de um acordo de paz duradouro. Um dos mais marcantes, remonta à decada de 60, quando os dois países lutavam para se reerguer. O norte obteve um sucesso momentâneo, até que Park Cheung-Hee foi eleito presidente e a economia de Seul ganhou novo fôlego. Pyongyang, sentindo que sua oportunidade de reunir a Coréia poderia se estreitar, decidiu enviar soldados para assassinar o mandatário sul coreano. No episódio, que ficou conhecido como ataque à Casa Azul, o Norte mandou para Seul uma tropa de elite, formada por 31 homens, disfarçados com uniformes do exército sul-coreano. Eles conseguiram chegar a 100 metros do palácio presidencial, antes de serem interceptados. Em 1974, nova tentativa: um agente norte-coreano atirou contra Park, mas a bala atingiu sua esposa, que morreu horas depois.

O norte promoveu também atentados à bomba. Um deles matou mais de 20 pessoas de uma delegação sul coreana em Mianmar, em 1983. Outro explodiu um avião da Korean Air em 1987, pouco antes das Olimpíadas de Seul, vitimando 115 passageiros. Já o Sul foi responsável pela morte de 24 norte-coreanos, depois que um de seus submarinos encalhou na costa da Coréia do Sul, em 1996.

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As relações seguiram com aumento e diminuição da tensão, dependendo do momento histórico. Tentativas de aproximação política e econômica entre os dois países foram ensaiadas com a criação da primeira cúpula intercoreana, em 1990, depois de a população do norte enfrentar um período de fome severa, que matou cerca de 3 milhões de pessoas. A reunião entre o presidente da Coréia do Sul, Kim Dae-jung, e o líder da Coréia do Norte, Kim Jong Il, tinha tudo para marcar um ponto de virada, no entanto, o controverso programa nuclear norte coreano, no início dos anos 2000, com testes de misseis balísticos, voltou a afastar o processo de paz.

A dinastia da família Kim se perpetuou no poder, enquanto as relações entre os dois países seguiu o efeito sanfona, ora distendendo, ora acirrando as provocações. O jovem Kim Jong-un aceitou retomar as negociações e se reunir com o presidente americano Donald Trump, depois que ambos os líderes fizeram ameças mútuas.

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Esperanças renovadas, mas não totalmente concretizadas. Norte e o Sul retomaram relações. Um novo escritório para intermediar resolução dos conflitos foi criado e os dois países mandaram emissários de paz. Pyongyang queria o fim do embargo econômico, o Seul e os Estados Unidos o fim do programa nuclear. Após as negociações entre Kim e Trump fracassarem, a Coreia do Norte explodiu o escritório de relações com o Sul, colocando mais uma pedra no caminho da conciliação.

Páginas de um conflito que ja dura 70 anos e não dá sinais de que irá terminar tão cedo.

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