A intensa operação para resgatar belugas de aquário em Kharkiv, na Ucrânia
Miranda, fêmea de 14 anos, e Plombir, macho de 15, chegaram ao maior aquário da Europa, na Espanha, nesta quarta-feira, 19
Duas belugas foram resgatadas em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, e transportadas para o maior aquário da Europa, na Espanha, nesta quarta-feira, 19. Nos últimos meses, tropas russas ampliaram o cerco contra a região ucraniana, devastada por intensos e incessantes bombardeios aéreos. Os ataques danificaram a rede elétrica ucraniana, de forma a dificultar que a temperatura das águas dos tanques permanecesse gelada, como demandam as belugas. Os animais só permaneceram vivos, mesmo com estado de saúde delicado, porque o aquário passou a funcionar a partir de um gerador.
Não era apenas o aquecimento que aumentou o receio de especialistas em vida marinha em relação aos animais. Com o avanço das operações russas, os alimentos tornaram-se mais escassos na cidade. A dupla, como consequência, teve a dieta diária de 132 quilos de lula, arenque, cavala e outros peixes frescos cortada pela metade, explicou Daniel Garcia-Párraga, diretor de operações zoológicas do Oceanogràfic de Valencia envolvido na operação, ao jornal americano The New York Times.
A preocupação com as baleias Miranda, fêmea de 14 anos, e Plombir, macho de 15, levou cuidadores ucranianos a cogitarem alimentá-las com peixes descartados por restaurantes e mercados de Kharkiv. O risco de que o estabelecimento fosse alvejado também se somou à equação — na última semana, bombas explodiram nas proximidades do aquário NEMO Dolphinarium, agitando as águas do lado de dentro.
Funcionários do NEMO enfrentam acusações de crueldade animal. “Eles capturam mamíferos marinhos e os usam – treinam e usam-nos para entretenimento”, afirmou Natalia Gozak, oficial de resgate de vida selvagem do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal na Ucrânia, ao NYT. O aquário, ainda que algumas focas e leões marinhos tenham sido retirados, permanece de portas abertas e com shows de golfinhos.
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Como o resgate foi feito
Por conta da situação em Kharkiv, criou-se um plano de transporte dos dois mamíferos, também chamados de baleias-brancas. Para tanto, foi reunida “a equipe de elite de especialistas em mamíferos marinhos do mundo” para “o resgate mamífero mais complexo já realizado”, disse o chefe da Associação de Zoológicos dos Estados Unidos, Dan Ashe.
Participaram da empreitada, então, profissionais da Oceanogràfic de Valência, onde agora estão as belugas; do Georgia Aquarium, em Atlanta; e do SeaWorld, na Flórida. O trabalho não teria sido possível sem a pesquisadora ucraniana Olga Shpak, uma das maiores referências mundiais da espécie, que estava in loco. Juntos, estudaram por semanas as alternativas até a criação de um plano final.
Além das explosões, o desafio estava centrado na falta de caixas de transporte que não eram apropriadas para Miranda e Plombir. Mas os ucranianos drenaram os tanques quando eram levantados, de forma a impedir que rachassem e a possibilitar que a viagem de 36 horas num caminhão fosse possível nesta segunda-feira, 17.
Tudo certo, seguiram o trajeto para o aeroporto da Moldávia, onde equipes de resgate fretaram um avião de carga específico que continha um guindaste interno para mover as caixas. Durante o percurso aéreo, cientistas monitoraram a temperatura da água, que precisa permanecer entre 22 e 24°C. Os animais chegaram, enfim, às 6h30 do horário local (1h30 em Brasília) chegaram a Valência.