Em meio às falas de autoridades ocidentais de que há um “risco iminente” de uma invasão da Rússia à Ucrânia, o momento escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para se encontrar com o presidente russo, Vladimir Putin, tem sido alvo de críticas de várias frentes. O mandatário brasileiro segue nesta segunda-feira, 14, a Moscou, um dia após autoridades americanas alertarem que pode haver um ataque já nesta semana.
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Para uma autoridade do Departamento de Estado americano, que falou a VEJA sob condição de anonimato, o Brasil deveria usar a oportunidade para reforçar à Rússia “a preocupação dos Estados Unidos e de outras nações sobre o papel desestabilizador que a Rússia está desempenhando e a ameaça atual à soberania e integridade territorial da Ucrânia”.
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“Como líderes democráticos, os EUA e o Brasil têm responsabilidade de se posicionar por princípios democráticos. Esperamos que o Brasil assuma esta oportunidade para reforçar esta mensagem em suas conversas em Moscou”, disse a autoridade.
Segundo o funcionário americano, a posição do governo dos EUA sobre o aumento de presença militar russa na fronteira com a Ucrânia foi comunicada ao governo brasileiro, com quem “mantém diálogos regulares em todos os níveis”.
Em reportagem publicada em VEJA no início do mês, na edição nº 2775, o ex-embaixador Sergio Amaral destacou que Brasil e Rússia têm relação antiga e fazem parte do Brics, grupo que reúne ainda China, Índia e África do Sul. Em outras situações, uma missão oficial seria algo natural, mas não em meio a uma tensão que pode resultar em guerra.
“Nesta circunstância é difícil evitar que essa visita seja interpretada como um gesto de simpatia e até solidariedade com Moscou”, destacou.
As preocupações se dão em meio à consolidação de forças russas perto da fronteira com a Ucrânia. De acordo com o Ministério da Defesa ucraniano, há, atualmente, mais de 127.000 soldados russos posicionados perto de seus limites. A Rússia cercou o norte do país vizinho, onde a fronteira é mais desguarnecida, posicionando seu Exército como uma ferradura, cercando a região por três lados, em territórios de Belarus, de quem é aliada.
O Kremlin é contra a possível adesão de Kiev à aliança militar da Otan e vem alertando que uma confirmação terá consequências graves. Segundo Putin, uma eventual adesão do país vizinho à Otan é uma ameaça não apenas à Rússia, “mas também a todos os países do mundo”. De acordo com ele, uma Ucrânia próxima ao Ocidente pode ocasionar uma guerra para recuperar a Crimeia – território anexado pelo governo russo em 2014 –, levando a um conflito armado.
A Aliança e os Estados Unidos, por sua vez, afirmam que “a relação com a Ucrânia será decidida pelos 30 aliados e pela própria Ucrânia, mais ninguém” e acusa a Rússia de enviar tanques, artilharia e soldados à fronteira para preparar um ataque.