A revolta de democratas e republicanos com o envio de segredos dos EUA a jornalista
Envio de planos militares altamente confidenciais por funcionários do governo Trump é considerado uma 'extraordinária' quebra de segurança na Casa Branca

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, divulgou planos militares secretos em um grupo de bate-papo que incluía um jornalista, numa grave falha de segurança, confirmou a Casa Branca na segunda-feira 24. A declaração do governo americano ocorreu poucas horas após o editor-chefe da revista The Atlantic, Jeffrey Goldberg, afirmar que havia sido incluído por engano pelo conselheiro de Segurança Nacional, Michael Waltz, a um grupo do governo no aplicativo de mensagens Signal.
O catastrófico vazamento de segurança desencadeou indignação tanto entre o Partido Democrata como entre o Partido Republicano, do presidente Donald Trump.
No plenário do Senado na segunda-feira, o líder da minoria democrata, Chuck Schumer, chamou o episódio de “uma das violações mais impressionantes de inteligência militar sobre as quais li em muito, muito tempo”. Ele pediu que os republicanos fizessem uma “investigação completa sobre como isso aconteceu, os danos que criou e como podemos evitar (algo semelhante) no futuro”.
O senador democrata Chris Coons, de Delaware, disse no X (ex-Twitter): “Cada um dos funcionários do governo nesta cadeia de mensagens de texto cometeu um crime — mesmo que acidentalmente. Não podemos confiar em ninguém nesta administração perigosa para manter os americanos seguros.” Jack Reed, senador democrata de Rhode Island, escreveu na rede que o incidente representou “uma das falhas mais flagrantes de segurança operacional e bom senso que já vi”.
O deputado Pat Ryan, democrata de Nova York, chamou o incidente de “Fubar” (sigla em inglês para “f*dido além de todo reconhecimento”) e ameaçou lançar sua própria investigação do Congresso “imediatamente” caso os republicanos da Câmara não ajam.
De acordo com reportagens da Atlantic, Goldberg foi acidentalmente adicionado em um grupo de bate-papo do Signal com mais de uma dúzia de altos funcionários do governo Trump, incluindo o vice-presidente J.D. Vance, o secretário de Estado, Marco Rubio, o conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, o secretário de defesa, Pete Hegseth, entre outros.
A reportagem expôs não apenas um histórico erro no cuidado com informações de segurança nacional, mas uma cadeia de comunicação potencialmente ilegal, na qual planos militares confidenciais sobre ataques aéreos a rebeldes hutis no Iêmen foram casualmente compartilhados em um chat.
Como o principal democrata no comitê de inteligência da Câmara, Jim Himes supervisionou inúmeros briefings confidenciais. Mas o vazamento no Signal sobre planos de guerra iminentes o deixou “horrorizado”. Ele falou que se trata de “uma violação descarada de leis e regulamentos que existem para proteger a segurança nacional”, e que se um oficial de escalão inferior fizesse o mesmo, provavelmente “perderia o acesso (a arquivos confidenciais) e estaria sujeito a uma investigação criminal.” Ken Martin, presidente do Comitê Nacional Democrata, pediu que Hegseth renunciasse ou fosse demitido de seu cargo de secretário de Defesa.
O senador Mark Warner, o principal democrata no comitê de inteligência do Senado, postou nas redes sociais: “Este governo está brincando com as informações mais confidenciais do nosso país, e isso torna todos os americanos menos seguros.” Em paralelo, Hakeem Jeffries, o líder da minoria democrata na Câmara, pediu uma “investigação substancial sobre essa violação inaceitável e irresponsável da segurança nacional”, dizendo que o vazamento foi “completamente ultrajante”.
Os republicanos também se revoltaram, mas de forma mais coloquial. O senador John Cornyn, do Texas, descreveu o incidente como “uma grande confusão” e sugeriu que “a interagência analisaria isso” para determinar como ocorreu uma falha de segurança tão significativa.
Mike Lawler, deputado republicano de Nova York, resumiu o consenso bipartidário: “Informações confidenciais não devem ser transmitidas em canais não seguros – e certamente não para pessoas sem autorizações de segurança. Ponto final.”
A Casa Branca confirmou o vazamento, mas tentou defender as comunicações. O porta-voz do conselho de Segurança Nacional, Brian Hughes, disse ao jornal britânico The Guardian que as mensagens são um exemplo de “coordenação política profunda e ponderada entre altos funcionários”. Ele também justificou o ocorrido com o “sucesso” das operações militares contra os hutis.
O incidente, porém, potencialmente violou leis federais de manutenção de arquivos secretos. A Lei de Registros Federais, que exige a preservação de comunicações governamentais, normalmente exige que documentações de conversas sejam mantidas por dois anos, enquanto as mensagens do Signal foram programadas para serem excluídas automaticamente em menos de quatro semanas.