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A VEJA, porta-voz detalha expectativas para encontro de Biden e Bolsonaro

Segundo Kristina Rosales, do Departamento de Estado dos EUA, governo deseja medidas concretas no combate ao desmatamento antes de um possível acordo

Por Felipe Carneiro, de Los Angeles
Atualizado em 9 jun 2022, 09h36 - Publicado em 8 jun 2022, 21h49

A IX Cúpula das Américas começa nesta quarta-feira (8) em Los Angeles, nos Estados Unidos, sob uma nuvem de críticas por parte dos líderes dos países do continente de que o governo do presidente Joe Biden dá pouca atenção à região.

Poucas horas antes da Cerimônia Inaugural da Cúpula, oferecida pelo presidente Biden e pela primeira-dama Jill Biden, VEJA conversou com Kristina Rosales, porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos sobre as expectativas do governo americano para o evento.

A decisão dos Estados Unidos de não convidar países considerados não-democráticos para a Cúpula, e o boicote ao evento por parte de alguns países acabou jogando o tema Democracia para o centro do debate nos últimos dias. Isso atrapalha as discussões na Cúpula?

Estamos cientes de que alguns presidentes preferiram não participar da Cúpula, como é o caso do presidente do México. E há outros países que decidimos não convidar: Cuba, Venezuela e Nicarágua. Nosso objetivo como Cúpula é que todos cumpram a Carta Democrática Interamericana. Os países que participam da Cúpula precisam ser democráticos, e esses 3 países não são. Isso não significa que não tenhamos representantes destes países: há pessoas da sociedade civil e do setor privado que já estão aqui participando dos eventos e reuniões.

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Os próximos dias serão um pouco mais carregados de conversas entre chefes de Estado, como é o caso da reunião entre o presidente Biden e o presidente Bolsonaro. O presidente Biden tem 5 temas específicos para discutir com os líderes do continente: prosperidade econômica, crise migratória, crise climática, crise sanitária/COVID, e segurança alimentar.

O que os Estados Unidos esperam que saia de concreto desses encontros?

Os Estados Unidos vai dar apoio econômico para lutar contra a pobreza e a fome, que estão crescendo no continente. Temos programas que já existem, como o USAID e o Feed the Future, que receberão mais investimentos. Esperamos anunciar mais detalhes nos próximos dias. Sobre a crise climática, as conversas na Cúpula vão priorizar a situação nas ilhas do Caribe, que são hoje as mais afetadas com a subida no nível do mar.

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Sobre o pacote econômico, é mais abrangente e complexo. Ontem anunciamos um investimento de 1,9 bilhão para melhorar a vida das pessoas da América Central, onde a questão da imigração é mais acentuada. Não é só investimento financeiro, mas também criação de empregos por parte de empresas americanas e multinacionais nesses países.

Bolsonaro tem atacado o processo eleitoral brasileiro. Em uma Cúpula voltada à democracia, como isso é visto? 

O tema Democracia vai sempre ser um importante pano de fundo. Vai fazer parte de todas as conversas feitas aqui na Cúpula. O governo americano sabe que o sistema eleitoral brasileiro funciona. Já houve várias eleições nas últimas décadas, que aconteceram de forma livre e com apuração rigorosa. Não há motivo para se preocupar, temos muita confiança de que a voz dos brasileiros será ouvida. Confiamos 100% que as eleições serão livres e justas.

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O Brasil é um exemplo de democracia. Estados Unidos e Brasil são as duas maiores democracias da região, e têm a responsabilidade de mostrar isso para seus próprios cidadãos e também para seus vizinhos. É sobre isso que o presidente Biden pretende conversar com o presidente Bolsonaro: reafirmar a confiança no sistema eleitoral e na democracia brasileira.

O presidente brasileiro voltou a levantar suspeitas sobre as últimas eleições presidenciais americanas. Como o governo responde a isso?

Temos um presidente eleito de forma livre, justa e correta. Houve investigações a esse respeito, e o resultado das eleições foi confirmado.

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O presidente Bolsonaro é muito criticado pela atuação de seu governo no tema do meio-ambiente. O presidente Biden pretende pressioná-lo nesta questão?

Houve uma mudança de tom por parte do governo Bolsonaro no tema meio-ambiente depois da COP 26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima , realizada em novembro de 2021 na Escócia). Foi prometido um comprometimento do governo para trabalhar na questão do metano, poluição e desmatamento. O que é importante agora é dar seguimento a essas conversas do ano passado, e procurar formas de medir e verificar se há de fato uma evolução concreta. O Brasil sempre teve um papel de liderança na questão climática.

Será proposto um novo acordo?

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Queremos saber o que vem sendo feito. Em novembro conversamos. Queremos saber que ações foram tomadas para o cumprimento dos acordos da COP.

A Vice-Presidente Kamala Harris tem entre suas atribuições a relação com a América Latina, mas tem sido criticada por dar pouca atenção à região. Há um plano para corrigir essa rota?

Não julgamos esta crítica procedente. A própria Cúpula é um passo importante nesta relação. A vice-presidente foi à posse da presidente Xiomara Castro, de Honduras, e mantém conversas constantes com membros de governos e sociedade civil dos países da América Latina. Os investimentos já anunciados e o pacto que será assinado nos próximos dias são consequência deste trabalho que a vice-presidente tem feito nos últimos dois anos.

A China está investindo muito na América Latina, e já ultrapassou os Estados Unidos como o mais importante parceiro comercial do Brasil. Isso causa preocupação?

Não vemos a participação da China como um problema, não vemos as relações comerciais de outros países como um problema. O que nós tentamos colocar em pauta é que a China costuma exigir contrapartidas para investir em determinado país. Os Estados Unidos investiram muito na distribuição de vacinas contra a Covid-19 na América Latina para amenizar a crise sanitária, por exemplo. Sem exigir contrapartida. Não é o que vemos a China e a Rússia fazerem.

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