Apesar do ultimato do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, os outros países que assinaram o acordo nuclear com o Irã em 2015 pretendem encontrar maneiras de manter suas empresas no país.
Com a retirada dos Estados Unidos do acordo na terça-feira, Trump quer impor sanções comerciais às empresas estrangeiras que mantêm negócios com o Irã. Washington deu um prazo de 90 a 180 dias para o encerramento dos contratos com o país.
Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha, que também participaram do acordo, lamentaram a decisão do presidente americano e pediram nesta quarta-feira que o texto seja mantido até onde possível, apesar da saída dos Estados Unidos.
O ministro da Economia da França, Bruno Le Maire, indicou que irá analisar junto ao secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steve Mnuchin, as possibilidades de evitar essas sanções, após queixar-se que Washington se comporta como “a polícia econômica do planeta”.
O presidente francês, Emmanuel Macron, deve telefonar ainda nesta quarta para o presidente iraniano Hassan Rohani, para reiterar a ideia de que o acordo segue em vigor e que Teerã deve seguir cumprindo-o integralmente.
Em Berlim, a Federação das Indústrias Alemãs disse que o pedido de Washington para as empresas pararem de negociar com o Irã contraria a lei internacional. “A Federação das Indústrias Alemãs rejeita a aplicação extraterritorial de sanções e pede para que a União Europeia encontre uma solução para proteger as empresas europeias da ilegal e unilateral aplicação de sanções dos Estados Unidos”, disse a Federação em comunicado.
O ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, prometeu trabalhar para preservar o acordo nuclear com o Irã e impedir uma “escalada descontrolada” de tensões no Oriente Médio.
No Reino Unido, o chanceler Boris Johnson também afirmou que o país não pretende abandonar o acordo nuclear com o Irã. “Vamos cooperar com outras partes para garantir que, enquanto o Irã continuar restringindo seu programa nuclear, seu povo irá se beneficiar da suspensão de sanções, em linha com a parte central do acordo”, acrescentou.
O porta-voz do Ministério do Exterior da China, Geng Shuang, disse a repórteres nesta quarta-feira que “garantir a integridade e inviolabilidade” do acordo era importante para promover a paz e a estabilidade no Oriente Médio. “Expressamos lamento por essa decisão tomada pelos Estados Unidos”, disse Shuang.
A China investiu fortemente no acordo e não está claro que efeito a decisão de Trump de reimpor sanções contra o Irã terá sobre a relação com o país. Há muito tempo o país tem sido um parceiro econômico próximo ao Irã, comprando cerca de um terço das exportações de petróleo do país persa.
A Rússia afirmou estar “profundamente decepcionada” com a decisão de Donald Trump. O ministro de Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, reiterou o compromisso do país com o acordo, reportou a agência Interfax.
Nesta quarta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, se encontra com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, – um apoiador da saída americana do acordo – na qual devem conversar sobre o tema.
Outras nações e AIEA
O Japão mostrou nesta quarta-feira apoio ao acordo nuclear com o Irã e pediu ao resto das potências signatárias que adotem “medidas construtivas” para conseguir sua manutenção.
“O Japão segue apoiando o JCPOA (sigla em inglês do pacto), que contribui para o fortalecimento do regime internacional de não-proliferação (nuclear) e para a estabilidade no Oriente Médio, e espera que as partes pertinentes adotem medidas construtivas” para mantê-lo, disse o chanceler japonês, Taro Kono, em comunicado.
Indo de frente à declaração de Trump, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmou que o Irã continua cumprindo as determinações do acordo nuclear “Até a data de hoje, a AIEA pode confirmar que os compromissos nucleares estão sendo implementados pelo Irã”, indicou em comunicado o diretor-geral da AIEA, o japonês Yukiya Amano.
“O Irã está submetido ao regime de verificação nuclear mais rígido do mundo sob o JCPOA, que é uma grande contribuição para a verificação (nuclear)”, acrescentou o japonês.
Até o momento, os países que demonstraram apoio à decisão de Trump foram Israel e Arábia Saudita.
(Com EFE, AFP e Estadão Conteúdo)