Acordo com o Mercosul chega em ‘péssimo momento’, diz Noruega
Tratado de livre-comércio com o EFTA enfrenta resistência dentro do governo norueguês por políticas ambientais brasileiras e incêndios na Amazônia
A primeira-ministra da Noruega, integrante da Associação Europeia de Livre-Comércio (EFTA, na sigla em inglês) que reúne os países do continente não membros da União Europeia (UE), lamentou nesta terça-feira, 27, o “péssimo momento” do acordo comercial concluído com o Mercosul no contexto dos incêndios na Amazônia.
Em meio a uma enxurrada de críticas no exterior por sua gestão dos incêndios, o presidente Jair Bolsonaro havia anunciado na sexta-feira 23 o fechamento de um acordo de livre-comércio entre a EFTA (que reúne Noruega, Islândia, Liechtenstein e Suíça) com o Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai).
“(Por um lado) É um péssimo momento, agora que a Amazônia está em chamas”, afirmou Erna Solberg, cujo país exerce a presidência rotativa do EFTA no segundo semestre do ano, ao jornal Dagens Naeringsliv. “Por outro, é um acordo que passamos anos tentando concluir, e o acordo apoia o objetivo de uma gestão sustentável da floresta tropical.”
O anúncio deste tratado comercial chega no momento em que países como França e Irlanda ameaçaram bloquear o acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o bloco sul-americano para protestar contra a gestão dos incêndios por parte da Presidência brasileira.
Também acontece poucos dias depois de a Noruega, seguindo os passos da Alemanha, anunciar a suspensão de sua contribuição financeira para o Fundo Amazônia, que prevê recursos para a preservação da selva amazônica.
Esta coincidência levou organizações de defesa do meio ambiente e partidos de oposição a lançarem duras críticas ao governo de direita na Noruega por fechar um acordo de livre-comércio com o Mercosul justamente quando o Brasil é alvo de pressão internacional.
Segundo o jornal europeu Klassekampen, dois partidos nanicos da coalizão de governo, liberais e democrata-cristãos, não excluem rever o acordo com o Mercosul, quando o texto for examinado no Parlamento.
A resistência dentro do governo acredita que é necessário colocar ainda mais pressão sobre o Brasil para impedir o desmatamento.
Este ano já foram registrados mais de 80.000 incêndios no Brasil, uma alta de 80% em relação a 2018. Mais da metade dos focos (52%) se concentrou na região amazônica.