Acordo de paz em Gaza será assinado hoje: veja o que texto inclui e o que ainda está em aberto
Israel e Hamas aceitaram com o plano apresentado pelo presidente dos EUA, Donal Trump, para uma primeira fase de cessar-fogo
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que seu gabinete de ministros se reunirá na fim da tarde desta quinta-feira, 9, para assinar oficialmente o acordo de paz com o grupo terrorista Hamas, acertado na véspera em negociações no Egito. Os termos incluem a retirada das Forças Armadas israelenses do enclave, a interrupção dos ataques militares e a libertação dos reféns — os vivos, segundo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que avançou a proposta, serão soltos na próxima segunda-feira. Muito, porém, ainda permanece em aberto.
O presidente americano anunciou na noite de quarta-feira que Israel e Hamas tinham dado o OK para uma primeira fase da implementação do cessar-fogo em Gaza, a partir do plano de paz divulgado por ele na semana passada. De acordo com o seu roteiro, os reféns devem ser libertados em até 72h depois do aceite. Em um comunicado, o gabinete de Netanyahu afirmou que o prazo começaria a contar após uma reunião dos ministros, marcada para as 18h locais (12h em Brasília) desta quinta-feira.
Embora membros da ala radical do governo israelense, como o ministro das Finanças Bezalel Smotrich, tenham antecipado que vão votar contra, os sinais para implementação da primeira etapa são positivos. O Exército israelense afirmou em nota que estava se preparando para uma retirada — embora não deva abandonar de todo o enclave em um primeiro momento.
“As Forças de Defesa de Israel (IDF) iniciaram os preparativos operacionais antes da implementação do acordo. Como parte desse processo, estão em andamento os preparativos e um protocolo de combate para a transição para linhas de mobilização ajustadas em breve”, diz a declaração.
Enquanto isso, a Defesa Civil de Gaza, órgão ligado ao governo civil do Hamas, denunciou nesta quinta que os ataques aéreos contra o território palestino continuaram após o anúncio de que o acordo foi aceito. O porta-voz Mohamed al-Mughayyir mencionou “intensos bombardeios aéreos sobre a Cidade de Gaza” e várias explosões ao longo do enclave, “especialmente no norte de Gaza”.
O que prevê o acordo e o que ainda está em aberto
Apesar do otimismo, este seria apenas um passo inicial para encerrar a guerra em Gaza. A primeira fase suspenderá as hostilidades no enclave, com as tropas israelenses recuando para novas posições. Os reféns mantidos pelo Hamas – dos quais se acredita que cerca de 20 estejam vivos – serão libertados em 72 horas, seguidos pelos restos mortais dos outros 28. (Essa parte pode ser problemática: segundo a emissora americana CNN, o grupo não sabe onde estão os corpos de ao menos 15 dos reféns.)
Em troca, entre 1.700 e 2.000 prisioneiros palestinos serão liberados de prisões israelenses — o Hamas entregou uma lista com nomes de 250 pessoas condenadas à prisão perpétua e mais 1,7 mil detidas em Gaza desde outubro de 2023.
E haverá um aumento na entrada de ajuda humanitária no território, extremamente necessária, embora o cronograma desse fluxo não tenha sido especificado. Não se tabe também se todas as organizações estrangeiras estariam liberadas para entrar no território e que tipo de suprimentos seriam permitidos passar nessa retomada. Segundo uma fonte citada pela BBC, quando o cessar-fogo entrar em vigor, Israel permitirá que 400 caminhões de ajuda entrem em Gaza diariamente durante os primeiros cinco dias, um número que aumentaria gradualmente nas etapas posteriores. Mas nenhuma das partes confirmou essa informação.
Não ficou claro se o cessar-fogo terá um prazo de duração pré-estabelecido. Também é incerto exatamente quanto território as IDF vão ceder – a mídia israelense fala em manter mais da metade de Gaza por enquanto – e qual poderia ser o cronograma para uma retirada, mesmo que parcial. O Hamas havia exigido uma retirada completa.
Outro ponto importante: o desarmamento do Hamas. Conforme relatou o jornal americano The New York Times, o grupo palestino poderia aceitar um desarmamento parcial de suas forças em Gaza, exigindo em troca algum tipo de garantia vinda de Trump de que Israel não retomará a guerra. E parece improvável que os combatentes aceitem uma anistia ou se exilem, como especifica o plano de 2o pontos de Trump.
Há outras questões a serem resolvidas – a forma exata de governança em Gaza após o fim definitivo da guerra, a potencial reconstrução do território devastado, quem poderia fornecer soldados para uma força internacional de “estabilização”, e muito mais. Tudo isso ainda precisa ser totalmente negociado e, ou mesmo, explicitamente acordado em princípio.







