O destino de um acordo orçamentário negociado pelo Senado americano na quarta-feira de forma bipartidária está cada vez mais incerto com republicanos e democratas ainda em desacordo sobre os gastos autorizados ao governo federal e a questão da imigração no país. Caso ambos o Senado e a Câmara dos Representantes não aprovem o plano até à 0h de sexta-feira (3h no horário de Brasília), o governo americano entrará novamente em paralisação parcial por falta de fundos para cobrir seus gastos, o chamado shutdown.
No Senado, o principal entrave vem de um republicano — mesmo partido de Donald Trump –, o senador Rand Paul, do estado do Kentucky, apresentou objeções ao plano firmado com os democratas e disse que pretende travar o acordo após o prazo limite para forçar um novo acordo.
Em entrevista à emissora americana Fox News, Paul disse que não estava defendendo um novo shutdown. “Mas também não estou defendendo deixar esse troço aberto e tomando um milhão de dólares em crédito por minuto”, explicou.
Na Câmara, o acordo bipartidário do Senado para um orçamento válido por dois anos e que autoriza um aumento de 300 bilhões de dólares nos gastos com defesa durante este período foi criticado momentos após ao anúncio do plano. Legisladores democratas afirmavam que não aceitariam nenhum acordo que não incluísse alguma discussão sobre imigração, enquanto alguns republicanos se diziam preocupados com o aumento exorbitante de gastos autorizados que deve inflar o já enorme déficit orçamentário do país em bilhões de dólares.
A líder da minoria na casa, a representante do partido democrata pela Califórnia, Nancy Pelosi, fez um discurso de mais de oito horas ainda na quarta-feira contra o acerto feito no Senado. Um número cada vez maior de deputados democratas parece estar disposto a votar contra o plano, seguindo Nancy. Um grupo de cerca de 30 legisladores republicanos também anunciou sua intenção de não aprovar o orçamento, tornando muito remota a chance de que a proposta recebe o aval da Casa.
Dreamers
Em uma carta aos colegas democratas, Nancy resumiu sua posição: “A recusa do presidente da Câmara, [Paul] Ryan, em permitir um processo bipartidário por uma proposta para o Daca diminui a dignidade da Câmara dos Representantes. Ela também insulta o povo americano, que majoritariamente apoia os dreamers”.
O Daca é um programa aprovado por Barack Obama, que protege da deportação centenas de milhares de imigrantes que entraram em situação irregular nos Estados Unidos enquanto eram menores de idade — são os chamados dreamers (sonhadores) à que Nancy se refere na carta. Trump anunciou que não renovaria o programa, deixando esses imigrantes em um limbo jurídico e possível expulsão do país até que o Congresso crie um plano alternativo para eles.