Países africanos investem na contenção do coronavírus no continente para evitar sobrecarga dos frágeis sistemas de saúde. Na quinta-feira 19, a diretora regional da África na Organização Mundial da Saúde (OMS), Matshidiso Moeti, afirmou que este momento “determinará quantas pessoas ficarão gravemente doentes”.
“Ainda acho possível impedir que um grande número de pessoas morra, mas isso precisa de coordenação, um enorme esforço e muitos recursos”, disse Moeti. A OMS já confirmou ao menos 522 casos no continente, além de 13 mortes (seis no Egito, seis na Argélia e uma em Burkina Faso).
Na África Subsaariana, 63% da população de áreas urbanas — 258 milhões de pessoas — não pode lavar as mãos, segundo os dados do Unicef, porque não têm acesso a água e sabão. Um think tank americana, a Rand Corporation, revelou em 2016 que, dos 25 países do mundo mais vulneráveis a epidemias, 22 estavam na África.
O diretor geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, já se mostrado preocupado com a possibilidade de o coronavírus alcançar a África desde os primeiros casos da doença, na China. Na quarta-feira 18, afirmou que os números oficiais poderiam estar subestimando a força da epidemia nesse continente, que precisaria preparar-se “para o pior”.
Recursos limitados
Caso o vírus se espalhe de maneira descontrolada, apenas uma fração dos infectados poderão ser atendidos. De acordo com o jornal britânico The Guardian, a África do Sul, dona do melhor sistema de saúde pública do continente, possui menos de 1.000 leitos de terapia intensiva, dos quais 160 estão no setor privado, para uma população de 56 milhões. Em Malawi, há apenas 25 leitos de UTI em hospitais públicos para 17 milhões de pessoas.
O hospital de referência em Uganda, cuja população é de 44 milhões, tem um total de 1.500 leitos, e sua UTI acomoda 60 pacientes. No Sudão do Sul, devastado por uma guerra civil de cinco anos, há 24 camas de isolamento. O principal hospital de doenças infecciosas da capital do Zimbábue, Harare, não possui nenhum leito de terapia intensiva.
Controle de danos
Preparativos para um surto de Ebola, que matou mais de 11.000 pessoas na África Ocidental entre 2013 e 2016, proporcionaram vasta experiência no controle de doenças infecciosas. Uganda, por exemplo, já estocou equipamentos de proteção, remédios e tendas para atendimento. Além disso, possui um sistema de envio de amostras de exames para laboratórios em todo o país.
A demora do coronavírus em chegar ao continente também permitiu maior articulação entre governos locais e a OMS, com intuito de melhorar a vigilância e os centros de tratamento. Mas as consequências de uma epidemia vertiginosa podem ser graves, com os sistemas de saúde já sobrecarregados por populações vulneráveis, como refugiados, desnutridos ou que sofrem de HIV e outras condições crônicas.