Ainda vamos levar 300 anos para alcançar igualdade de gênero, alerta ONU
Novo relatório da ONU Mulheres registrou aumento de casamentos forçados na infância e sequestros de meninas, bem como reversão de direitos sexuais
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse na noite desta segunda-feira 6 que a igualdade de gênero está “a 300 anos de distância”, de acordo com as últimas estimativas da ONU Mulheres. Segundo ele, todo o progresso feito na área está “desaparecendo diante de nossos olhos”.
Em discurso na Comissão sobre a Condição Feminina, antes do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, Guterres citou problemas persistentes como as altas taxas de mortalidade materna, casamentos forçados e precoces e meninas sendo sequestradas e agredidas por frequentar a escola – para ele, evidências de que a esperança de alcançar a igualdade de gênero “está ficando mais distante”.
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“Os direitos das mulheres estão sendo abusados, ameaçados e violados em todo o mundo”, disse o chefe das Nações Unidas, citando alguns países em particular, como o Afeganistão, onde disse que “mulheres e meninas foram apagadas da vida pública”.
Nesta segunda-feira, jovens afegãs se reuniram do lado de fora da Universidade de Cabul para protestar contra a proibição do Talibã à educação feminina, uma restrição que um novo relatório das Nações Unidas diz que pode representar “um crime contra a humanidade”.
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Sobre o Afeganistão, o relatório apresentado na segunda-feira também observou um aumento de casamentos forçados na infância, a proibição de mulheres em espaços públicos, como parques e academias, e outras restrições ao trânsito de mulheres no país.
Segundo Guterres, “crises e conflitos afetam mulheres e meninas primeiro e pior”, incluindo a guerra na Ucrânia como exemplo. No ano passado, as Nações Unidas pediram uma investigação sobre relatos de estupro e violência sexual contra mulheres e meninas ucranianas após a invasão da Rússia.
O chefe das Nações Unidas também disse que, “em muitos lugares, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres estão sendo revertidos”, sem especificar onde.
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Em junho passado, a Suprema Corte dos Estados Unidos reverteu o direito federal ao aborto, deixando a decisão de permitir ou não o procedimento para cada estado. No ano anterior, a Polônia proibiu abortos até em caso de má-formação do feto, praticamente acabando com quase todos os procedimentos no país.
Para alcançar a igualdade de gênero, Guterres pediu ações “coletivas” e “urgentes”, desde o aumento da educação, renda e emprego para mulheres, especialmente nos países em desenvolvimento do Sul Global.
“Séculos de patriarcado, discriminação e estereótipos nocivos criaram uma enorme lacuna de gênero na ciência e na tecnologia”, disse Guterres. “Sejamos claros: as estruturas globais não estão funcionando para as mulheres e meninas do mundo. Eles precisam mudar.”