Com 86,5% das urnas das eleições primárias na Argentina apuradas, o candidato favorito para a Casa Rosada, Alberto Fernández, teve o cuidado especial de reverenciar seu filho Estanislao ao comemorar sua vitória na segunda-feira, 12. Fernández saiu-se com uma ampla vantagem sobre o atual presidente, Mauricio Macri, que contrariou todas as pesquisas eleitorais. Sua vitória, afirmou, se devia ao jovem de 24 anos mais conhecido pelo nome artístico de Dyhzy. “A partir de hoje, o conceito de vingança, de racha e qualquer coisa que nos divida teve um fim. Vamos fazer isso nesse país. Devo isso a Estanislao, e vocês também devem isso a seus filhos”, declarou Fernández em seu discurso.
Nas noites de Buenos Aires, os fatos de Estanislao ser Dyhzy e de Dyhzy ser uma drag queen são bastante conhecidos. Estanislao/Dyhzy é também um apaixonado por animes japoneses, ilustrador, militante queer – comunidade que rejeita os padrões convencionais de sexo –, além de filho do possível presidente da Argentina. Quando Fernández anunciou sua candidatura ao lado da ex-presidente Cristina Kirchner, em maio passado, as fotos de Dyhzy com maquiagem pesada e fantasias extravagantes começaram imediatamente a viralizar nas redes sociais – muitas delas, acompanhadas por mensagens homofóbicas. Estanislao chegou a fechar sua conta no Instagram por um período por causa da repercussão negativa.
Em entrevista à Rádio con Vós, Alberto Fernández negou que o trabalho do filho tenha afetado negativamente sua campanha e se referiu a Estanislao como um “grande homem”. “Nesse mundo [de drag queen], que não conheço muito, ele é muito respeitado e reconhecido. Tenho orgulho do meu filho. Como não vou ter? Ele é militante dos direitos dessa comunidade. Ficaria preocupado se meu filho fosse um delinquente”, declarou.
O jovem igualmente teve o cuidado de celebrar esta primeira vitória de seu pai, que ainda enfrentará o primeiro turno da eleição presidencial em 24 de outubro. Pelas redes sociais, agradeceu “a todos que depositaram sua confiança votando em meu velho” e insistiu que, para ele, Alberto Fernández é a pessoa “mais preparada” para a presidência argentina.
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Estanislao se declara homossexual e monogâmico. Mas namora há três anos Natalia Edith Leone, uma cosplayer como ele, e se refere à moça como “o amor de minha vida”. Na infância, estudou em escolas católicas, onde a homossexualidade era apresentada como algo degradante. “Eles inculcam esse medo na gente”, afirmou ao portal Filo News.
Conforme Estanislao/Dyhzy explica, a sexualidade é como “um espectro infinito”. À revista Notícias, deixou claro que atuar como drag queen e cosplayer não define sua identidade sexual, mas apenas reflete uma expressão artística para um nicho de pessoas com códigos estéticos próprios. “Minha relação com Natalia é a primeira de maior duração. Antes, tive relações com uns garotos, mas muito curtas.”
Em sua vida profissional como drag queen, Estanislao/Dyhzy reclama apenas do baixo pagamento às drag queens nas casas noturnas. “Já trabalhei por seis a sete horas montada por 300 pesos. Às vezes com uma desculpa que eu odeio: serve para você se expor. Isso é exploração trabalhista”, denunciou ao Filo News.
Sua atuação profissional é chamada na família como “as loucuras de Tani”, seu apelido em casa. Foi dessa forma que Fernández se referiu ao filho quando reencontrou-se pela primeira vez em nove anos com Cristina Kirchner, em 2017. “Cristina sempre foi muito amorosa comigo. Desde que meu pai saiu de seu governo (2008), não a voltei a ver e a apoiei em algumas coisas que disse e fez e a rechacei em outras.”