Alemanha: “Faltam cinco minutos para 1933”
Apenas em Berlim, no domingo 2, mais de 160 000 pessoas foram às ruas contra o extremismo

Na antessala das eleições parlamentares do dia 23, a Alemanha vive dias conturbados. Na quarta-feira 29, o Bundestag aprovou em votação simbólica um texto antimigração com o apoio do AfD, o partido de extrema direita. O acordo foi costurado pelo atual líder da oposição, Friedrich Merz, do CDU, partido democrata-cristão, favorito para o pleito do fim do mês. É muito possível que ele suceda ao premiê social-democrata Olaf Scholz. O acerto, com 348 votos a favor, 345 contra e 10 abstenções, acendeu o rastilho de pólvora dos protestos, por representar virada inaceitável. Há um consenso no país, chamado de brandmauer, o equivalente a porta corta-fogo, que barra qualquer aliança com os extremistas. Merz rompeu a barreira, como se ultrapassasse o cordão sanitário. Resultado: apenas em Berlim, no domingo 2, mais de 160 000 pessoas foram às ruas. Alguns levavam cartazes com uma frase incômoda: “Faltam cinco minutos para 1933”, referência ao ano em que Adolf Hitler foi eleito chanceler, com imenso apoio popular, e o resto é história. Merz ensaiou recuo, ao dizer que no poder jamais se associaria ao AfD, mas o estrago está feito. Angela Merkel, ex-chanceler, predecessora no comando do CDU, criticou severamente o companheiro de sigla. Não demorou para que um lema se espalhasse pelas ruas, atrelado aos apelidos dos personagens: “Fritz, ouça a Mutti”. Merkel, durante seu governo, era chamada de Mutti, a “mãezinha”. É conselho de bom senso, no avesso da estupidez radical.
Publicado em VEJA de 7 de fevereiro de 2025, edição nº 2930