Uma foto de 2017 mostra uma desconhecida sacudindo uma coqueteleira atrás do balcão de um restaurante mexicano em Manhattan. Um ano depois, Alexandria Ocasio-Cortez, de 29 anos, filha de uma porto-riquenha, tornou-se a estrela da eleição legislativa americana. Ela derrotou um deputado nova-iorquino com dez mandatos, ancorada em uma campanha modesta, em que batia de porta em porta, quase anonimamente, e em um vídeo viral no qual contava sua história e dizia que a disputa era uma questão de “pessoas versus dinheiro”. A sola gasta do sapato foi devidamente exibida na rede social pela vitoriosa, que hoje tem mais de 3 milhões de seguidores no Twitter.
Com apelido de artista de hip-hop, AOC, como é conhecida, tem em comum com o presidente Trump a onipresença digital. Usa sua conta para comentar tudo. Compra brigas, responde a críticos de bate-pronto e tornou-se fulgurante a ponto de levar a Netflix a comprar por 10 milhões de dólares um documentário que narra os bastidores de sua campanha (outras três campanhas do campo progressista também estarão no filme).
AOC liderou a apresentação do Green New Deal, uma proposta ambientalista radical para reduzir a zero as emissões de gases poluentes até 2030, e tornou-se a cara do plano, que ainda assusta muita gente. A mais jovem deputada no Congresso é também a cara da ala esquerda no Partido Democrata, e sua visibilidade desafia pré-candidatos à Presidência que temem não corresponder aos anseios dos jovens, como ela faz. AOC ainda acendeu uma sonolenta audiência sobre ética na Câmara ao anunciar que mimetizaria falas típicas de políticos inescrupulosos. Com uma bateria de perguntas retóricas, expôs as permissivas leis de financiamento de campanha que protegem interesses corporativos. Exemplo: “Há alguma lei que me impede de ter ações numa empresa de petróleo e gás, propor leis que derrubem regulamentos dessa indústria e fazer disparar as ações da empresa e me proporcionar ganhar uma nota?”. Naturalmente, o vídeo da sessão viralizou. AOC é excelente contadora de histórias.