O embaixador dos Estados Unidos na União Europeia (UE), Gordon Sondland, confirmou em um depoimento à Câmara dos Deputados nesta quarta-feira, 20, que atuou ao lado do advogado pessoal de Donald Trump, Rudolph Giuliani, a partir de ordens expressas do mandatário, para que ambos pressionassem a Ucrânia a investigar o ex-vice-presidente Joe Biden.
Sondland ainda admitiu que os esforços para pressionar o presidente ucraniano, Voladimir Zelenski, a investigar Biden fizeram parte de uma troca de favores com os ucranianos. Os assessores de Trump teriam deixado claro que para que o líder do país do Leste Europeu pudesse fazer uma visita à Casa Branca, ele teria que iniciar a apuração contra o principal rival do republicano nas eleições presidenciais de 2020.
O democrata também confirmou a existência de um “quid pro quo”, expressão latina que significa dar algo em troca de um favor, na doação de 400 milhões de dólares à Ucrânia. Segundo ele, os Estados Unidos condicionaram o envio da ajuda militar à investigação sobre a família do ex-vice-presidente e possível rival eleitoral Joe Biden.
“Houve ‘quid pro quo?’ Com relação à chamada solicitada da Casa Branca e da reunião da Casa Branca, a resposta é sim”, disse o diplomata em seu depoimento inicial, se referindo à uma ligação telefônica de junho entre Trump e Zelensky.
Eu seu discurso de abertura, Sondland ainda enfatizou que ele, o secretário de Energia Rick Perry, e Kurt Volker, enviado especial para a Ucrânia, relutaram em trabalhar com Rudy Giuliani, e só aceitaram após insistência de Trump. Essas declarações surpreenderam a bancada republicana, pois esperavam que o testemunho de Sondland protegesse os interesses do presidente.
A expectativa pelo testemunho de Sondland aumentou nas últimas semanas pois, depois de negar qualquer negligência em sua aparição inicial a portas fechadas, ele disse aos investigadores que os outros testemunhos tinham “revigorado sua memória” e reconheceu que ele próprio tinha comunicado em setembro ao governo ucraniano que não entregariam ajuda até que investigassem os democratas.
O diplomata disse ainda que o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, estava ciente e “apoiava totalmente” suas ações na Ucrânia.
Ele testemunhou que disse ao vice-presidente, Mike Pence, que temia que a ajuda militar retida estivesse ligada às investigações de Biden. “Todos estavam a par. Não era um segredo. Não lembro de ter me deparado com qualquer objeção.”
Investigações contra Biden
Segundo Sondland, Giuliani “transmitiu ao ex-secretário (de Energia) Rick Perry, ao embaixador Volker, e outros” o desejo do presidente Trump em fazer com que Zelensky realizasse um pronunciamento público, onde demonstrasse que seu governo se comprometeria em investigar a estatal de gás Burisma, onde Hunter Biden, filho de Joe Biden, trabalhara.
Sondland também expressou que mais valia apenas o anúncio do que uma investigação propriamente dita. Como as eleições presidências nos Estados Unidos ocorrem no próximo ano, Trump poderia utilizar o anúncio como peça publicitária contra Biden.
Ainda no discurso de abertura, Sondland afirmou que o desejo de Trump “não era um segredo”. Citando um trecho de um e-mail enviado a várias autoridades, como Mike Pompeo, o secretário Perry, e o chefe do gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney, dias antes da ligação entre os presidentes, Sondland disse que Zelesnky “assegurará que pretende iniciar uma investigação totalmente transparente e que vai ‘procurar em baixo de cada pedra'”.
Antes de seu pedido para que Zelensky realizasse a investigação, Trump congelou 391 milhões dólares em ajuda de Estados Unidos aprovada pelo Congresso para ajudar a Ucrânia a combater separatistas apoiados pela Rússia na parte oriental do país. Sondland afirmou que está “completamente convicto” de que o congelamento dos milhões em ajuda estava diretamente ligado ao pedido de abertura de investigações contra Hunter Biden.
Trump nega irregularidades, chamou o inquérito de caça às bruxas e atacou algumas das testemunhas, incluindo os atuais assessores da Casa Branca.
(Com Reuters)