Ameaça de bomba e apelo popular: como foi a juventude de papa Leão XIV como padre no Peru

Antes de se tornar papa Leão XIV, o americano Robert Fracis Prevost viveu uma fase marcante de sua vida no norte do Peru, onde atuou como missionário a partir de 1985.

Recém-chegado dos Estados Unidos e ainda arranhando o espanhol, ele começou a colocar em prática sua educação religiosa na cidade peruana de Chulucanas em um dos períodos mais violentos da história do país, marcado pelo conflito entre o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso (SL) e o governo peruano, que deixou cerca de 70 mil mortos. 

Fidel Alvarado, padre da diocese de Chulucanas, era um seminarista de 20 anos quando conheceu Prevost. Numa entrevista à agência de notícias Reuters, ele se recordou do dia em que uma bomba explodiu do lado de fora da igreja, destruindo a porta do templo. Na ocasião, os párocos foram instruídos a deixar o local em 24 horas ou seriam mortos. Mas ficaram, contou Alvarado, “pelas pessoas”.

Apesar das intimidações a ele e outros padres estrangeiros, Prevost decidiu permanecer no país andino, motivado pelo apoio e carinho da comunidade local. 

“Ele tinha uma aura que falava com as pessoas. As pessoas se aglomeravam em volta dele”, disse à agência de notícias Reuters Hector Camacho, que era adolescente e coroinha em 1985 na cidade de Chulucanas quando Prevost chegou para ser pároco.

Peruano de alma

O norte do Peru é uma área rica em ouro e outros minerais preciosos, mas também com altos índices de pobreza e alvo frequente de inundações na estação chuvosa. Durante sua estadia no país, Prevost promoveu atividades para manter os jovens longe da criminalidade, celebrou missas em áreas remotas e mostrava preocupação constante com a realidade social da região. 

Os moradores da região lembram do americano como um homem calmo, disciplinado e comprometido com a justiça social. Prevost tornou-se cidadão peruano em 2015 – seus pratos favoritos incluem a culinária típica do país, incluindo ceviche e frango chicharrón. Foi bispo da cidade de Chiclayo daquele ano até 2023, quando recebeu de papa Francisco o cargo de prefeito do Dicastério para os Bispos, no Vaticano. 

“Ele sempre nos falou sobre o valor da comunidade, que faz parte da beleza de Santo Agostinho”, disse Fidel Alvarado.

Agora, como papa Leão XIV, leva ao pontificado a experiência de quem viveu de perto a pobreza, a violência e a fé de um povo que o ajudou a moldar sua missão pastoral.

• Estados Unidos
• Papa Leão XIV
• Peru
• Vaticano