O encontro regional sobre a imigração venezuelana organizado em Quito, capital do Equador, terminou na terça-feira 4 com uma declaração dos onze países participantes, entre eles o Brasil, de seguir recebendo cidadãos que fogem da crise no país vizinho, dentro de um sentido de “irmandade” e “solidariedade”.
“O documento contém a vontade de todos os Estados participantes de seguir acolhendo de braços abertos a todos os que vêm enfrentando uma difícil situação em seu país de origem”, anunciou ao fim da reunião o representante peruano, César Bustamante.
O diretor de Assuntos Consulares e Imigração chileno, Raúl Sanhueza, afirmou também que os países concordaram em aceitar documentos de viagem vencidos dos venezuelanos para facilitar o acesso às suas fronteiras.
“Sairemos juntos dessa crise, que é a crise mais importante que a região já teve, ou não sairá ninguém ileso dela”, disse.
Assinaram a declaração de intenções Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai. Também participaram do encontro representantes da República Dominicana, como observadores. A Bolívia, aliada da Venezuela, se absteve de assinar o texto.
Pressão sobre Maduro
A declaração também pede ao governo de Nicolás Maduro que aceite sua ajuda humanitária, a fim de “descomprimir” a crise que está por trás da migração em massa de venezuelanos pela região.
As nações que assinaram “fazem um pedido pela abertura de um mecanismo de assistência humanitária que permita descomprimir a crítica situação, dando atenção imediata na origem aos cidadãos afetados”, diz o texto.
Com este novo pronunciamento, a região se distancia ainda mais da visão de Maduro sobre o que está acontecendo no país.
O representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), José Javier Samaniego, avaliou que os resultados da reunião são um roteiro para ações no futuro e expressou a disposição do órgão em continuar trabalhando com os países para apoiar as diferentes iniciativas incluídas na declaração.
O poderoso dirigente venezuelano Diosdado Cabello disse que a reunião foi uma “vergonha”.
“O grupo acaba de se unir, (…) este que é de dar nojo, vergonha, no Equador. Que lástima, que vergonha com o Equador. Eles fizeram uma declaração, palavras mais, palavras menos, (em que) acabam pedindo dinheiro”, criticou Cabello, presidente da Assembleia Constituinte.
Na segunda-feira 3, o governo chavista acusou funcionários das Nações Unidas de justificar uma “intervenção internacional” pelo alto número de migrantes venezuelanos, que Maduro cifrou pela primeira vez em 600.000 nos dois últimos anos.
Seus dados diferem dos apontados pelas Nações Unidas. Segundo o organismo, cerca de 2,3 milhões de venezuelanos vivem no exterior, dos quais 1,6 milhão abandonou o país desde 2015, com a piora da escassez de medicamentos e alimentos em meio à hiperinflação que corrói os salários. Caracas, no entanto, insiste que não se trata de uma crise humanitária.
Durante suas longas travessias a pé ou de ônibus, os venezuelanos têm recebido ajuda, mas em alguns lugares se viram envolvidos em conflitos com a população local. O governo brasileiro enviou tropas ao estado fronteiriço de Roraima, após alguns episódios violentos.
Recursos indispensáveis
No encontro em Quito, os governos também pediram ajuda financeira para regularizar os imigrantes.
Duro crítico do governo de Maduro, os Estados Unidos deram ajuda a Colômbia e Brasil para atender os venezuelanos, enquanto o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, anunciou na semana passada recursos europeus, na quantia de 35 milhões de euros.
“Concordamos que é muito difícil para os Estados enfrentar (…) os requerimentos nos serviços públicos que somos obrigados a fornecer”, declarou o diretor de Assuntos Consulares do Peru, César Bustamante.
Com a onda de venezuelanos, o Equador mantém desde agosto passado uma emergência migratória para províncias fronteiriças com a Colômbia — onde chegam da Venezuela — e Peru, atraídos por melhores condições para obter emprego.
(Com AFP e EFE)