Ampla vitória da coalizão de Shinzo Abe nas legislativas no Japão
O Partido Liberal Democrata de Abe e o seu principal aliado, o Komeito, já conquistaram 236 cadeiras das 465
O chefe do governo japonês, Shinzo Abe, obteve uma ampla vitória nas eleições legislativas antecipadas deste domingo (22), segundo pesquisas de boca de urna.
A coalizão conservadora do primeiro-ministro nacionalista poderia obter 311 assentos, dos 465 da Câmara Baixa, sinônimo de uma maioria de dois terços, segundo estimativas da rede privada TBS, baseadas em pesquisas de boca de urna realizadas após o encerramento da votação.
Abe venceria assim o desafio lançado por ele próprio para obter um novo mandato à frente da terceira economia mundial, em um contexto de ameaça norte-coreana.
A um canal de televisão, o primeiro-ministro declarou pouco depois da votação que “como prometi durante a campanha, minha missão imediada é agir com firmeza com a Coreia do Norte. Para isso, uma diplomacia forte é necessária. Vou reforçar nosso poder diplomático após a confiança depositada por vocês”.
Milhões de japoneses enfrentaram chuvas torrenciais com a aproximação de um poderoso tufão para votar nas eleições, antecipadas por Shinzo Abe com o objetivo de se fortalecer.
No poder desde o final de 2012, depois de um primeiro exercício fracassado em 2006-2007, Abe poderá permanecer no controle do país até 2021, superando o recorde de longevidade de um primeiro-ministro japonês.
Após uma breve campanha de 12 dias focada na Coreia do Norte e em questões econômicas, as eleições aconteceram sob forte chuva e, por vezes, ventos violentos, sinais que anunciam a chegada do tufão Lan, que se dirige para o arquipélago vindo do sudoeste com ventos de até 216 km/h no Oceano Pacífico.
Mais de 380 voos foram cancelados neste domingo no Japão, e os serviços de trens e ferries foram interrompidos no oeste do país, onde as autoridades locais emitiram recomendações de evacuação para os moradores que vivem perto da costa, rios e sopés de colinas, diante do risco de tsunami, inundações e deslizamentos de terra.
Se o mau tempo não atrapalhou a logística da votação, poderia favorecer a abstenção. Às 16h00 (5h00 no horário de Brasília), a taxa de participação era de 26,3%, contra 29,11% nas últimas legislativas em dezembro de 2014, onde um recordede abstenção foi alcançado.
No entanto, esta taxa não leva em consideração os votos antecipados, que é possível no Japão vários dias antes do dia oficial das eleições. E 21,4 milhões de eleitores, de cerca de 100 milhões de japoneses aptos, votaram antes deste domingo, um recorde, de acordo com o governo.
“Eu apoio a postura de Shinzo Abe de não ceder à pressão norte-coreana. Quero que ele continue a sustentar essa postura firme cooperando com os Estados Unidos e a Coreia do Sul”, declarou à AFP Yoshihisa Iemori, diretor de uma empresa de construção, ao votar em Tóquio.
Maioria de dois terços?
“Quando a Coreia do Norte nos ameaça e exacerba as tensões, não devemos hesitar”, declarou Abe no sábado, defendendo a posição dos Estados Unidos de “manter todas as opções” na mesa, inclusive militar, contra Pyongyang, que já lançou mísseis sobre o arquipélago japonês.
Se confirmados os 311 assentos da coalizão de seu Partido Liberal Democrata (PLD, direita) com o partido Komeito, Abe terá uma maioria de dois terços, condição necessária para convocar um referendo propondo rever a constituição pacifista, ditada em 1947 pelos Estados Unidos após a rendição do Japão no final da Segunda Guerra Mundial e cujo artigo 9 proclama que o país renuncia “para sempre” à guerra.
Abe, de 63 anos, decidiu em setembro dissolver o Parlamento e adiantar as eleições em um ano para enfrentar os escândalos de favoritismo e a derrota histórica de seu partido no governo de Tóquio em julho, agora nas mãos de sua carismática rival conservadora Yuriko Koike.
Algumas horas antes do anúncio oficial das legislativas antecipadas, Koike surpreendeu com a criação de uma nova formação, o Partido da Esperança.
A líder de direita, de 65 anos, que foi uma famosa jornalista da televisão japonesa, foi ministra do governo Abe e compartilha seu nacionalismo, mas sua decisão de não se apresentar pessoalmente nas eleições a fez cair nas pesquisas.
“Nosso tempo de preparação foi curto. Era uma batalha muito difícil”, justificou-se no sábado à noite.