Ancestrais diretos do rei Charles III e da família real britânica compraram e exploraram africanos escravizados em plantações de tabaco na Virgínia. É o que revela uma nova pesquisa nesta quinta-feira, 27, à qual o jornal britânico The Guardian teve acesso.
Um documento mostra que um antepassado do rei esteve envolvido na compra de pelo menos 200 escravos da Royal African Company (RAC), em 1686.
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O documento instrui o capitão de um navio a entregar os africanos escravizados a Edward Porteus, proprietário de uma plantação de tabaco na Virgínia, e a dois outros homens. O filho de Porteus, Robert, herdou a propriedade de seu pai antes de se mudar com a família para a Inglaterra, em 1720. Mais tarde, uma descendente direta, Frances Smith, casou-se com o aristocrata Claude Bowes-Lyon. A neta deles era Elizabeth Bowes-Lyon, a falecida rainha-mãe e avó de Charles.
Os documentos que estabelecem a árvore genealógica foram encontrados por acaso pela pesquisadora Desirée Baptiste – consultora de história sobre o tráfico transatlântico de escravizados –, ao investigar as ligações entre a Igreja Anglicana e os escravizadores da Virgínia, para um artigo de sua autoria.
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No início deste mês, o Guardian já havia publicado um documento que ligava o comerciante de escravos Edward Colston à monarquia britânica. Já a descoberta de Baptiste revela uma linha direta que vai dos Windsor ao tráfico de africanos escravizados.
A RAC, que traficou quase 180 mil pessoas escravizadas, recebeu cartas de sucessivos reis ingleses. Na pesquisa recém-publicada, altos funcionários do RAC, assinando uma carta com “seus amigos amorosos”, instruíram o capitão de um navio a entregar “negros” a Edward Porteus.
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O testamento de Eduardo Porteus, outro documento examinado por Baptiste, referia-se a “negros” que ele deixou ao filho Robert. Eduardo Porteus também deixou para sua esposa, Margarida, “minha negrinha Cumbo”.
A Virgínia é um estado relevante na história da escravidão nos Estados Unidos, por causa de um infame desembarque de africanos escravizados em Jamestown em 1619. As leis estaduais para garantir a manutenção da escravidão e suprimir revoltas incluíam chicotear e desmembrar pessoas, cortando um pé.