A ex-chanceler da Alemanha Angela Merkel defendeu nesta quarta-feira, 8, a forma com que seu governo lidou com o presidente russo, Vladimir Putin. Merkel foi acusada de deixar a Alemanha vulnerável ao buscar relações comerciais com a Rússia e criar uma forte dependência no setor energético.
O gasoduto Nord Stream 2, que transporta gás natural russo diretamente para a Alemanha, foi construído durante o seu mandato e só foi suspenso por seu sucessor, o chanceler Olaf Scholz, pouco antes da Rússia invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro.
Sob pressão para impor sanções à Moscou como reprimenda à guerra, a Alemanha está lutando para reduzir sua dependência da energia russa sem prejudicar sua própria economia. Mas Merkel defende que a Europa e a Rússia são vizinhos que não podem se ignorar.
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“Temos que encontrar uma maneira de coexistir apesar de todas as nossas diferenças”, disse na primeira grande entrevista desde que deixou o cargo, falando à emissora alemã ADR.
Segundo a ex-chanceler, a invasão foi “não apenas inaceitável, mas também um grande erro da Rússia”.
“Se começarmos a voltar através dos séculos e discutir sobre qual pedaço de território deve pertencer a quem, então só teremos guerra”, acrescentou.
Merkel também disse que “não tem nada para se desculpar” por sua resposta às ações de Moscou, inclusive à anexação da região ucraniana da Crimeia em 2014. Ela defendeu as sanções impostas à Rússia em resposta à anexação, assim como o papel da Alemanha na manutenção do processo de paz de Minsk, que deveria encerrar os combates no leste da Ucrânia na época.
Para ela, o processo de paz teria dado tempo à Ucrânia para se desenvolver como nação e fortalecer suas forças armadas.
“Eu não tenho que me culpar por não me esforçar o suficiente”, disse. “Eu não vejo que eu tenha que dizer ‘isso foi errado’, e é por isso que não tenho nada para me desculpar.”
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Merkel também defendeu sua oposição, em 2008, à adesão da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A ex-chanceler afirmou que queria evitar uma escalada de conflito com a Rússia e alegou que a própria Ucrânia não estava pronta para se juntar à coalizão militar.
“Não era a Ucrânia que conhecemos hoje. O país não era estável, estava cheio de corrupção”, disse.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, cujo país permanece fora da aliança da Otan apesar do extenso apoio da aliança desde a invasão, descreveu a decisão da Alemanha em 2008 como um “erro de cálculo”.