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Anthony Fauci: o médico à frente da luta contra a Covid-19 nos EUA

Após publicamente corrigir diversas vezes Donald Trump sobre a pandemia de coronavírus, infectologista ganha reforço na segurança por ameaças de morte

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 19h25 - Publicado em 2 abr 2020, 19h06
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  • Diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAD) dos Estados Unidos, o médico infectologista Anthony Fauci passou a ser protegido por uma equipe de segurança reforçada após receber ameaças de morte. O profissional da saúde é membro da força-tarefa de combate ao coronavírus criada pelo presidente Donald Trump, e o principal responsável pela mudança de postura do líder americano, antes resistente a aceitar o isolamento social prolongado como meio de prevenir o contágio massivo.

    A fonte das ameaças ainda não foi confirmada, mas a presença da polícia em torno de sua casa é visível, segundo a emissora americana CNN. “Eu escolhi essa vida, sabia no que estava me metendo”, disse Fauci, quando perguntado sobre as ameaças.

    À medida que a figura de Fauci tornou-se proeminente com a propagação da doença no país, também aumentou a preocupação com seu bem-estar. O médico e o presidente já bateram de frente diversas vezes, e a mais recente orientação de Fauci para que o país permaneça o mais fechado possível frustrou algumas vozes fervorosas da direita. Ainda assim, Trump afirmou que “ele não precisa de segurança, todo mundo o ama”.

    No domingo 29, Fauci alertou que o número de mortes devido à Covid-19 nos Estados Unidos poderia chegar a 100.000 ou 200.000, afirmando que medidas de isolamento social reduziriam as fatalidades. Trump ainda tinha planos de reabrir o país até a Páscoa, no dia 12 de abril, naquele momento. Pensava “que seria um momento bonito” para reverter as medidas, após ter escutado de líderes empresariais e aliados conservadores que as restrições ao comércio eram ainda mais danosas que o próprio vírus.

    Fauci e a médica Deborah Leah Birx, também da força-tarefa contra o coronavírus, acabaram com essa perspectiva ao anunciar a previsão fúnebre. O  republicano voltou atrás. No mesmo dia, anunciou que as medidas de isolamento seriam mantidas até, pelo menos, 30 de abril, e possivelmente até junho. A opinião do infectologista é que, sem os dados de testes de coronavírus, não será possível cessar o distanciamento tão cedo.

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    Otimismo versus ciência

    Não é a primeira vez que Fauci faz com que Trump enxergue a razão. No início de março, quando Trump alegou que a epidemia estava sob controle, o médico alertou que o pior estava por vir. Na mesma época, enquanto a Casa Branca assegurava repetidamente que os testes de coronavírusse tornariam disponíveis rapidamente, o médico disse que a escassez generalizada de testes era “uma falha” do sistema.

    Conhecido como “o checador de fatos em tempo real” do presidente, sua postura racional de cientista entrou em conflito com a impetuosidade presidencial também a respeito aos possíveis tratamentos para o coronavírus. Uma vacina levará pelo menos um ano e meio, disse Fauci, abafando a afirmação otimista de Trump de que ficaria pronta “em breve”.

    A cloroquina, medicamento contra a malária que supostamente poderia ajudar pacientes em quadros graves da Covid-19, também foi ponto de discórdia. A droga foi anunciada pelo presidente como promissora, mas quando perguntado sobre o assunto, Fauci – ao lado de Trump – discordou porque “essa evidência é anedótica, não comprovada em laboratório”.

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    Preocupado com a economia, o líder americano continua batendo na mesma tecla do otimismo. O trabalho de Fauci, além de debruçar-se sobre o coronavírus, é trazer o líder de volta à terra. Mas, segundo o jornal americano The New York Times, o médico tem ficado cada vez mais ousado em corrigir as falsidades do presidente – o mesmo que já demitiu dezenas de funcionários que o contradiziam ou roubavam seus holofotes.

    Relação diplomática

    À Science, uma das revistas acadêmicas mais prestigiadas do mundo, o infectologista afirmou que não foi demitido porque o líder americano verdadeiramente leva em conta sua opinião. “Embora discordemos de algumas coisas, ele ouve. Ele segue o seu próprio caminho. Ele tem seu próprio estilo. Mas em questões substantivas, ele ouve o que eu digo”, disse Fauci.

    O médico infectologista foi nomeado diretor do NIAD em 1984, quando a epidemia de Aids estava explodindo nos Estados Unidos e o então presidente, Ronald Reagan, demorava a reagir. Desde então, foi conselheiro de seis presidentes sobre questões de saúde doméstica e global. Essa experiência prévia com uma epidemia – e com políticos difíceis – lhe deu jogo de cintura para lidar com o coronavírus no presente. 

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    Apesar do bate-cabeça, Fauci tem sido elogioso ao presidente. “Não consigo imaginar, sob essas circunstâncias, que alguém poderia estar fazendo mais [que Trump]”, afirmou à emissora Fox News. Além disso, durante uma entrevista com a emissora CBS, chamou a suposta inimizade entre ele e o republicano de obsessão da mídia. “Acho que existe uma tentativa de tentar nos separar”.

    “O presidente quer trazer esperança para as pessoas”, disse Fauci, sobre as diferenças entre os dois. “Já o meu trabalho, como cientista é, por exemplo, provar, sem dúvidas, que um medicamento não apenas é seguro, mas que realmente funciona”.

    Enquanto isso, Donald Trump também responde aos afagos. “Ele é um bom homem. Gosto muito do doutor Fauci, para você entender”, disse a repórteres. Também afirmou que “Tony é uma grande estrela de televisão”, chamando-o pelo apelido.

    Por enquanto, Fauci parece ter se mostrado mais importante para Trump que as muitas autoridades exoneradas de sua administração – mesmo o contradizendo e roubando holofotes.

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