Logo ao anunciar o embaixador Ernesto Araújo como chanceler de seu governo, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, voltou a insistir na transferência da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Suas declarações anteriores já provocaram reações do mundo árabe. O governo do Egito cancelou visita que receberia no dia 8 passado do atual ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, e de uma missão empresarial brasileira como sinal de insatisfação.
“Quem define (onde instalar a embaixada) é seu governo. Vamos supor, se o Brasil fosse abrir sua embaixada em Israel, seria Tel-Aviv ou Jerusalém? Com certeza, seria em Jerusalém”, afirmou Bolsonaro à imprensa. “A independência do governo brasileiro tem de ser respeitada em qualquer lugar.”
O presidente eleito mostrou-se irredutível nesse quesito, embora tenha se esquivado de uma resposta mais concreta sobre a transferência. “Quando eu assumir em janeiro, você terá essa resposta”, completou.
Em gravação ao vivo pelo Facebook, no último dia 9, ele afirmara que não se deveria “dar bola” para o cancelamento da missão empresarial brasileira ao Cairo pelo governo do Egito. “Agora a bronca! Suspenderam a ida de empresários ao Egito, porque o Bolsonaro falou não sei o quê. Pelo amor de Deus, pelo amor de Deus! Vai dar bola pra isso, poxa?”, declarou.
A questão, porém, é considerada extremamente delicada. Pode trazer muito mal-estar para as relações entre o Brasil e os países árabes e os muçulmanos não árabes, como o Irã. Em especial, na seara comercial. O Egito importou 1,5 bilhão de dólares em produtos brasileiros entre janeiro e setembro, segundo dados públicos da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Todo o Oriente Médio, excluído Israel, comprou 9,6 bilhões de dólares do Brasil no período, enquanto Israel importou 256 milhões.
Embaixadas
O presidente eleito afirmou ainda que não nomeará para embaixadas e ministérios os membros do atual governo que estejam processados judicialmente. “Não temos nenhuma conversação com pessoas do governo para assumir embaixada ou ministério. Quem tiver devendo para a Justiça, não terá a mínima chance no governo meu. Com quem não deve, podemos até conversar”, afirmou.
Durante o anúncio desta quarta-feira, Bolsonaro tomou para si a tarefa de responder às primeiras perguntas sobre temas de política externa endereçadas ao futuro chanceler. Afirmou que dará asilo político aos cubanos que o pedirem, depois da decisão de Havana de cortar sua participação no programa Mais Médicos, no Brasil. Também prometeu uma participação mais efetiva do governo federal à recepção dos migrantes venezuelanos em Roraima.