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Aos 102 anos, sobrevivente do Holocausto é capa da Vogue Alemanha

Margot Friedländer foi enviada ao campo de Theresienstadt, na então Tchecoslováquia, em 1944; Sua mãe e irmão foram assassinados em Auschwitz um ano antes

Por Da Redação
20 jun 2024, 19h22

Aos 102 anos, Margot Friedländer, uma sobrevivente do Holocausto, foi modelo de capa da edição de julho/agosto da revista Vogue da Alemanha. Nascida em Berlim, ela permaneceu os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) escondida com a mãe, Auguste, e o irmão, Ralph, ambos depois assassinados em Auschwitz, principal campo de concentração da Alemanha Nazista.

Ralph foi preso pela Gestapo, a polícia secreta nazista, em 1943. Indignada com a detenção do filho, Auguste confrontou os agentes, o que culminou no seu envio a Auschwitz. Seus pais haviam se divorciado antes do conflito, e as crianças permaneceram sob a guarda da mãe. Tratava-se de uma família judia.

Aos 21 anos, Margot continuou em fuga até ser traída por “capturadores” no ano seguinte, tendo sido transportada para o campo de Theresienstadt, na então Tchecoslováquia, que foi ocupada pelos soldados alemães durante a guerra.

No período em que ficou no campo, Margot teve sempre em mente a última mensagem dita por sua mãe antes de desaparecer: “Tente melhorar a sua vida”. No campo, conheceu Adolf, com quem casou-se depois da libertação. Eles nunca tiveram filhos.

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O casal migrou para Nova York, nos Estados Unidos, em 1946. Ela morou na cidade até a morte do marido, em 2010, quando decidiu retornar a Berlim.

“Meu marido, que também era de Berlim, de Charlottenburg, não queria voltar. Ele ficou tão chateado com o que aconteceu”, explicou à revista. “Passamos pela mesma coisa. Ele também perdeu a mãe em Auschwitz. E ainda assim voltei novamente. É triste não poder ir ao túmulo dele. Mas uma vez perguntei a ele o que ele achava de voltar. Ele me disse que eu tinha que fazer o que meu coração me mandasse”.

Hoje centenária, Margot coleciona uma série de condecorações, como a Cruz Federal do Mérito 1ª Classe e o Coração de Ouro, concedido recentemente pelo chanceler Olaf Scholz, e o German Dream Award 2023. Em depoimento à Vogue alemã, ela disse que estava “grata por ter conseguido [sobreviver], por poder realizar o desejo” de Auguste, de quem herdou apenas um cordão.

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‘Horrorizada’ com o presente

A ativista, ao longo da entrevista, tratou sobre temas espinhosos do cenário político internacional contemporâneo. Questionada sobre o partido de extrema direita alemão AfD e neonazistas, Margot disse que sabe “exatamente como tudo começou” na Segunda Guerra e que estava “horrorizada por ter que experimentar isso hoje”, apelando para que todos “sejam humanos”. Ela também afirmou que nunca imaginou “que algo como o antissemitismo se desenvolveria novamente com tanta força, tão rápido e tão alto” e questionou: “o que aconteceu?”.

Sobre a guerra entre Israel e o grupo palestino radical Hamas, a alemã disse que “não há sangue cristão, muçulmano ou judeu. Existe apenas sangue humano”. “O antissemitismo sempre existiu. Depende apenas de como ele se mostra. E como as pessoas reagem a outras pessoas que lhes dizem algo que não é verdade, mas que parece bom”, acrescentou ela. Mesmo “decepcionada” com o violento panorama mundial, Margot disse manter a esperança.

“Estou muito decepcionado com a história. Nós não esperávamos isso”, desabafou. “Mas não perdemos a esperança, é importante. Se não tivéssemos nenhuma esperança, isso não funcionaria. De alguma forma, uma porta se abrirá.”

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