Pouco mais de um mês após os Estados Unidos suspenderem temporariamente as sanções econômicas contra a indústria de petróleo da Venezuela, Caracas anunciou nesta segunda-feira, 27, que está fazendo acordos com seis multinacionais do setor. O objetivo do país é restaurar sua deteriorada produção à pujança que já teve, num contexto em que o abastecimento global de combustíveis – e o americano em em particular – precisa do petróleo venezuelano para se estabilizar.
As concessões oferecidas pelos Estados Unidos esperam, em contrapartida, um compromisso do governo de Nicolás Maduro com a organização de eleições presidenciais livres, justas e verificáveis no ano que vem, sem vetos aos candidatos à participação. Além disso, preveem a libertação dos mais de 300 presos políticos no país.
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Por enquanto, Caracas soltou quatro pessoas, entre elas o ex-deputado venezuelano Juan Requesens e o jornalista Roland Carreño, assessor do líder político Juan Guaidó. Porém, não houve mais movimentações semelhantes, e o governo venezuelano também não suspendeu proibições eleitorais a candidatos. Inclusive, o Supremo Tribunal de Justiça, controlado pela gestão de Maduro, ordenou a suspensão das primárias da oposição, pleito no qual a vencedora foi María Corina Machado, impedida de ocupar cargos públicos.
O fim das sanções e a normalização da contratação direta, acordada com os Estados Unidos, permite ao tesouro venezuelano vender o seu petróleo bruto sem os descontos anteriores, que chegavam a 40%. O presidente da Petroleros de Venezuela, Pedro Tellechea, deu as boas-vindas ao capital internacional.
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Além da Repsol e da Eni, que já há algum tempo trabalham com a Venezuela em projetos de gás, a francesa Maurel e Prom anunciou que vai retomar as suas operações no Lago Maracaibo. A China Petroleum e a Indian Oil já estão realizando trabalhos com Miraflores. Há negociações com Trinidad sobre a exploração conjunta do campus Dragon, administrado pela Shell. A Mitsubishi quer retomar o projeto petroquímico Metanol de Oriente (Metor). Caracas confirmou projetos conjuntos de petróleo e gás com a colombiana Ecopetrol. Fala-se também da Petrobras e da Indian Reliance. A estatal PDVSA tem dívidas enormes com algumas dessas empresas.
Tão ou mais importante, os empreiteiros internacionais Halliburton, Baker and Hughes e Schlumberger também regressam aos campos venezuelanos. Algumas empresas privadas venezuelanas, como a Suelopetrol, manifestaram vontade de investir em poços e apresentaram propostas ao Executivo para aumentar a produção de petróleo bruto leve.
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Longe das suas médias históricas, calculadas em 3 milhões de barris por dia, a Venezuela, com a ajuda da licença especial à Chevron, produz atualmente apenas 800 mil barris diariamente. Especialistas estimam que, caso os acordos com as multinacionais se concretizem, a produção de petróleo bruto poderá aumentar cerca de 300 mil barris por dia em 2024, ultrapassando finalmente a marca de 1 milhão, e contando.
Num cenário de preços elevados do petróleo, as receitas do Estado seriam recuperadas com as vendas para os Estados Unidos, sem descontos. A Venezuela pode ter aí uma oportunidade real de expandir a sua economia após a crise de 2018.
Todo este movimento, porém, ocorre em meio à total relutância do chavismo em aceitar que Machado, líder em todas as pesquisas de opinião para assumir o governo nas eleições de 2024, pode concorrer. Washington já afirmou que, caso Caracas não cumpra sua parte do acordo, pode voltar a implementar as sanções, suspendidas temporariamente por um período de 6 meses que poderia ser prorrogado diante de demonstrações de boa vontade por parte do governo Maduro.
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Juan González, conselheiro especial para a América Latina do Departamento de Estado dos Estados Unidos, alertou que a Venezuela não está cumprindo os seus compromissos. Segundo ele, o governo americano deu um “ultimato” à Venezuela: Maduro tem até 30 de novembro para realizar gestos como a libertação de presos políticos e a suspensão de impedimentos a candidaturas. Caso contrário, os Estados Unidos retomarão a sua política de sanções.
Jorge Rodríguez, chefe da delegação chavista que esteve em Barbados para a assinatura do acordo com Washington, respondeu que a Venezuela “não aceita nenhum ultimato de ninguém” e acusou a tanto a oposição venezuelana quanto os Estados Unidos de serem os que não cumpriram o combinado.